O documento, uma versão com data de dezembro de 2017, enviado à Lusa por Joana Amaral Dias, antiga deputada do Bloco de Esquerda e comentadora, traça um cenário de falta de controlo e mesmo de desvalorização de riscos na concessão de crédito que tem um dos seus expoentes máximos nas operações de financiamento da fábrica da La Seda de Barcelona, em Sines, pelo banco público.
A auditoria conta a história desta operação, que tem início em 2007 e que envolveu um crédito concedido de mais de 350 milhões de euros, com imparidades de 60,2% para a CGD, à data de 2015.
Neste ano, foi homologado o Processo Especial de Revitalização (PER) da Artlant, criada para o projeto petroquímico de Sines, que iria ser desenvolvido pela espanhola La Seda, ela própria em insolvência.
A CGD tinha comprado, antes disso, 5% do capital da empresa espanhola com o objetivo de influenciar a localização da fábrica. Neste caso, o banco acabou por perder 53 milhões de euros, de acordo com a EY.
Outro negócio que gerou imparidades, de praticamente 100%, foi a concessão de um crédito de 138,3 milhões de euros à Investifino, para a compra de ações da Cimpor e do BCP, dando como garantia títulos destas duas empresas. A desvalorização das ações e as dificuldades enfrentadas pela Investifino obrigaram a reestruturar a dívida.
A auditoria identifica ainda uma operação para a concessão de crédito de 114,1 milhões de euros à Finpro, com o objetivo de efetuar a compra de participações sociais, gerando uma imparidade de 35% e outra de financiamento para aquisição de participações sociais e construção imobiliária à Birchview, num total de 169,6 milhões de euros e perdas de 30%. Todos estes valores dizem respeito a 2015.
Na aquisição e alienação de ativos, a auditoria encontrou também operações com pouca fundamentação e alto risco.
Destaca-se, em termos de valor, a aquisição de participação no BCP, com intervenção do Estado português, e que gerou perdas de 595 milhões de euros para a CGD, tendo em conta a elevada desvalorização das ações do banco.
A EY identificou ainda perdas de 340 milhões de euros num negócio que remonta a 1999, com a venda de obrigações de cupão fixo detidas pelo banco em Espanha e Paris.
No total, as perdas com dezenas de operações auditadas pela EY chegam quase aos três mil milhões de euros.
A consultora aponta "operações aprovadas com parecer de análise de risco desfavorável ou condicionada" da Direção Geral de Risco ou mesmo casos em que a avaliação não existiu, nem as garantias oferecidas para a concessão de crédito eram suficientes.