"Não tenho exercício da porta giratória. Estive sempre no setor público e nunca fui ao privado. Agora, quando acabei a minha vida pública, decidi experimentar a esfera privada", afirmou Luís Amado, acusando o deputado do BE Jorge Costa, que questionou a passagem do antigo governante para o Banif, primeiro, e depois para a EDP, de o atingir na sua dignidade.
Em audição na comissão parlamentar de inquérito às rendas excessivas aos produtores de eletricidade, na primeira ronda de perguntas, Jorge Costa questionou o facto de Luís Amado ter tido, enquanto ministro dos Negócios Estrangeiro, missão diplomática com diferentes Estados, com que depois veio a interagir enquanto presidente do Conselho de Administração do Banif e do Conselho Geral e de Supervisão (CGS) da EDP, cargo que ocupa desde abril de 2018.
"Colocou em causa a minha vida, como se estivesse a sujar a minha vida depois de 25 anos dedicados à política", respondeu Luís Amado, acusando o deputado bloquista de "um exercício de filigrana para atingir o argumento que procura vingar como tese".
"Se tivesse sido ministro das Finanças ou da Economia, eu não aceitava. (...) Foi muito forçado e atingiu-me na minha dignidade", acrescentou.
Perante a insistência de Jorge Costa de se tratar de ser um "caso típico", o presidente do CGS da EDP sublinhou que fez um corte "claro" com a vida política quando deixou o Governo de José Sócrates e que não tem "qualquer ambição de voltar à função política".
"Isso não se aplica. Encerrei uma fase da minha vida que foi a vida pública, na atividade política, e quis conhecer a atividade privada, como se cria riqueza numa empresa privada. Não tenho o direito de exercer as minhas competências na esfera privada?", questionou.
Referindo a "agressividade do ponto de vista ideológico" da tese, Luís Amado declarou que aceitou o convite para o Banif - numa altura em que recebeu outros convites - para tentar salvar o banco, ocasião em que, "provavelmente", o BE "andou a minar as condições que dariam condições ao banco".
O ex-ministro da Defesa e dos Negócios Estrangeiros Luís Amado assumiu em abril do ano passado a presidência do CGS, que antes havia sido liderado por Eduardo Catroga, tendo sido o nome proposto pelos acionistas representados no órgão que supervisiona a comissão executiva, liderada por António Mexia. Antes, entre 2015 e 2018, tinha sido vice-presidente.