"Pessoalmente não tenho dívidas. Claro que não tenho dívidas", disse Joe Berardo durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão da CGD, que decorre na Assembleia da República, em Lisboa.
O empresário fez as afirmações em resposta à deputada do BE Mariana Mortágua, que tinha perguntado por que é que Berardo "não paga o empréstimo à banca ou dá a garantia que aparentemente foi dada aos bancos quando fez um acordo de renegociação em 2008 e reiterou em 2011", se dá mostras públicas de riqueza e de ser "multimilionário".
A deputada do BE disse que viu o empresário "em 2017 na revista Flash a louvar os grandes lucros da Bacalhôa [quinta que pertence à Fundação Berardo], e em janeiro de 2019 sem problemas em mostrar a sua imagem pública, a mostrar a sua mansão no programa do [apresentador Manuel Luís] Goucha".
"Eu chego aqui, ao parlamento, e na porta e diz 'esta é a minha casa'. É de todos, não é só de vocês. Eu pessoalmente não tenho dívidas, tenho tentado ajudar. Claro que não tenho dívidas", declarou.
Segundo a auditoria da EY à gestão da Caixa Geral de Depósitos (CGD) entre 2000 e 2015, o banco público tinha neste ano uma exposição à Fundação Berardo e à Metalgest, sociedades do universo do empresário, na ordem dos 321 milhões de euros.
Joe Berardo esclareceu também que a garantia dada à CGD são os títulos da Associação Coleção Berardo, e não das obras de arte em si. "O que os bancos têm são os títulos da associação, sempre souberam isso", disse o empresário, acrescentando que não sabe "como é que [os bancos] fizeram a valorização dos títulos" da instituição.
A parlamentar do BE perguntou então se "os bancos não achavam que estavam a penhorar as obras".
"Inicialmente eles queriam isso, mas isso está fora de questão. Nunca eu ia dar aquilo como garantia, aquilo faz parte da minha vida", afirmou Joe Berardo.
Mais tarde, a deputada do CDS-PP Cecília Meireles perguntou a Berardo o que aconteceria se os bancos tentassem executar os títulos da Associação Coleção Berardo. "Eles têm direito, que o façam", sugeriu o empresário. "E se o fizerem deixa de ser o senhor a mandar na associação?", perguntou a deputada centrista. "Ah! Ah! Ah!", gargalhou Berardo.
"Pergunte à Caixa, eles é que me emprestaram o dinheiro"
Considerando que muitas perguntas dos deputados não deviam ser feitas a si, mas aos bancos que lhe concederam créditos, Joe Berardo respondeu assim a uma interpelação feita pelo deputado do PCP Duarte Alves, que questionou o empresário sobre como conseguiu, em 2006, 50 milhões de euros para compra de ações através da empresa Metalgest, que tinha então um volume de negócios de apenas 50 mil euros e um resultado operacional bruto (EBITDA) negativo.
"Pergunte à Caixa, eles é que me emprestaram o dinheiro", afirmou Berardo. Questionado ainda pelo deputado comunista sobre por que pediu dinheiro usando diferentes entidades - Metalgest, Fundação Berardo - o empresário respondeu "pergunta bem". "O meu trabalho é ir pedir dinheiro, para rentabilizar, não deu certo, na vida é assim", acrescentou.
Já nas respostas a outros deputados, por várias vezes, Berardo recomendou que os parlamentares fizessem as perguntas aos bancos que concederam os créditos.
O empresário Joe Berardo tem sido dos clientes bancários mais falados na comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão da CGD, pelo incumprimento nos elevados empréstimos que lhe concedeu o banco público.
Segundo a auditoria da EY à gestão da CGD entre 2000 e 2015, o banco público tinha neste último ano uma exposição a entidades de Joe Berardo (Metalgest e Fundação Berardo) na ordem dos 321 milhões de euros.
Os empréstimos a Joe Berardo serviram para financiar a compra de ações do BCP, cuja garantia eram as próprias ações, que depois desvalorizaram praticamente na totalidade, gerando grandes perdas para o banco público.
Berardo considerou hoje, na audição, que ter investido no BCP foi um grande erro: "O BCP foi o maior desastre que eu tive na minha vida", declarou.