"Temos todos de nos preparar. O Governo está a fazer o seu trabalho [para evitar a greve], mas todos podíamos começar a precaver-nos, em vez de esperarmos pelo dia 12, que não sabemos se vai acontecer [a paralisação]. Era avisado podermo-nos abastecer para enfrentar com maior segurança o que vier a acontecer", disse Pedro Nuno Santos aos jornalistas em Matosinhos, à margem da apresentação de um investimento na ferrovia.
Recorde-se que dois sindicatos de motoristas entregaram um pré-aviso de greve com início em 12 de agosto que propõe serviços mínimos de 25% em todo o território nacional, enquanto que na greve de abril, que levou a uma corrida aos postos de abastecimento de combustível, eram de 40% apenas em Lisboa e Porto.
"Temos todos de nos preparar", frisou hoje Pedro Nuno Santos, quando questionado pelos jornalistas sobre se pretendia atestar a viatura no caso de ir de férias antes de 12 de agosto.
"Estamos todos a trabalhar para nos preparar para qualquer eventualidade e, antes disso, para que não haja sequer greve", disse.
Pedro Nuno Santos observou ainda que "o Governo trabalha da melhor forma para que o impacto negativo [da eventual greve] na vida dos portugueses seja o mínimo". "Ao mesmo tempo, tem a preocupação de que um diferendo entre as duas partes se consiga resolver e toda abertura para que as partes se entendam e cheguem a um acordo", descreveu.
O ministro lembrou também que "os motoristas vão ter um aumento muito significativo, de cerca de 300 euros, já em janeiro 2020", destacando que "era importante que não se perdesse o que já se alcançou".
Negociações voltaram a falhar e a greve... mantém-se à espreita
Os sindicatos dos motoristas, que entregaram um pré-aviso de greve com início em 12 de agosto, reuniram esta quarta-feira na Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT) para planificar os serviços mínimos.
À saída, o representante da ANTRAM (Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias), André Matias de Almeida, anunciou aos jornalistas que “infelizmente a reunião termina sem acordo. A ANTRAM apresentou aqui uma proposta que entendia ser responsável (…) É importante dizê-lo que os sindicatos propunham 25% quando a anterior greve tinha 40% dos serviços mínimos", porém acrescentou, "a ANTRAM achou que não era responsável para os portugueses (…) e portanto a proposta que o sindicato no fim de várias horas de nos deixar à espera na sala foi dizer que não concordava com essas mesmas propostas”.
Além disso, revelou ainda André Matias de Almeida aos jornalistas, os motoristas não farão descargas de mercadorias, apenas vão conduzir os veículos, situação que a ANTRAM lamenta, apontando intransigência nas negociações.
"Mais uma vez não houve nenhum tipo de abertura. Uma postura muito arrogante e a pessoalizarem todos os dirigentes da ANTRAM, todos os problemas que a ANTRAM se propõe a resolver com um aumento de 300 euros para o próximo ano (...). Chegámos ao ponto de ouvir deste sindicato expressões como 'vão rolar a cabeças'. É lamentável que isto assim seja", considerou.
Refira-se que, de acordo com um documento a que a Lusa teve acesso, a proposta de serviços mínimos a assegurar "tem por referência 25% dos trabalhadores" em cada empresa que preste abastecimento de combustíveis, por exemplo, a "portos, aeroportos e postos de abastecimento das empresas que têm por objeto a prestação de serviço público de transporte de passageiros, rodoviários, ferroviários e fluviais".
A isto, somam-se "estruturas residenciais para pessoas idosas, centros de acolhimento residencial para crianças e jovens, estabelecimentos de ensino, IPSS e Santas Casas da Misericórdia".
Já no caso do "abastecimento de combustíveis e matérias perigosas a hospitais, centros de saúde, clínicas de hemodiálise e outras estruturas de prestação de cuidados de saúde inadiáveis, estabelecimentos prisionais, bases aéreas, serviços de proteção civil, bombeiros, forças de segurança e unidades autónomas de gaseificação", os sindicatos propõem que sejam assegurados na totalidade, "nas mesmas condições em que devem assegurar em dias úteis, de feriado e/ou descanso semanal".
Na greve iniciada em 15 de abril, o Governo estipulou a garantia dos serviços mínimos com 40% dos trabalhadores em funções, mas apenas para Lisboa e Porto. Posteriormente, o Governo acabou por decretar uma requisição civil e, depois, a convidar as partes a sentarem-se à mesa de negociações.
A elevada adesão à greve de três dias surpreendeu todos, incluindo o próprio sindicato, e deixou sem combustível grande parte dos postos de abastecimento do país.
Na segunda-feira, o SIMM ameaçou consequências mais graves para a greve que começa em 12 de agosto do que as sentidas em abril, através de uma carta aberta enviada às redações. Segundo fonte sindical, existem em Portugal cerca de 50 mil motoristas de veículos pesados de mercadorias, 900 dos quais a transportar mercadorias perigosas.
[Notícia atualizada às 17h50]