Na Europa - e em particular, em Portugal - há muito que soam os alarmes de uma nova crise económica. Aliás, vários economistas têm vindo a alertar que esse cenário surgirá na segunda metade do próximo ano, o Governo e as principais instituições reviram em baixa as estimativas de crescimento, mas o sentimento por cá é de (algum) otimismo.
As boas notícias são que "Portugal é a esperança da Europa", como escrevia a equipa editorial do Financial Times, no início desta semana, e Centeno reconhece que não há motivos para entrar em pânico.
"As crises financeiras têm uma tendência grande a gerar situações de pânico, com as crises económicas não há nenhuma razão" para tal, referiu, frisando que, "com as instituições" que o país tem, as crises "têm de ter uma resposta, mas não podem estar associadas ao pânico".
Certo é que 'lá fora' soam vários alarmes. O primeiro é a possibilidade de a economia alemã poder entrar em recessão técnica já no terceiro trimestre, depois de o gabinete de estatísticas do país ter confirmado uma contração no segundo trimestre.
A economia alemã tem sido o motor de crescimento da zona euro e não é um bom presságio que o país 'adoeça' nesta altura. Certo é que em território alemão os números também ainda não preocupam. O presidente do banco central da Alemanha, Jens Weidmann, referiu que não vê necessidade estimular a economia, nem motivos para entrar em pânico.
O problema é que a par dos alertas dos economistas, dos ajustes de política monetária por parte do Banco Central Europeu, o cenário pinta-se de incerteza. E incerteza é a palavra mágica. É a palavra que assusta os mercados. Se há algo que os investidores não gostam é de incerteza.
Quando falamos de incerteza no contexto internacional estamos a referir-nos à escalada de tensões entre os EUA e a China e, num cenário mais próximo, da possibilidade de haver uma saída do Reino Unido da União Europeia - processo denominado como Brexit - sem acordo.
O Financial Times escreve esta quarta-feira que o mais recente sinal de que está a caminho uma nova recessão foi observado na terça-feira no mercado obrigacionista norte-americano. Em causa está o facto de os juros da dívida norte-americana a 10 anos estarem a negociar abaixo dos juros a 2 anos, inversamente ao que acontece quando a economia está 'saudável'.
Portugal está (agora) mais bem preparado
Por cá, a garantia do ministro das Finanças, Mário Centeno, é que a "economia nacional está preparada para os desafios que hoje enfrenta", apontou, justificando com os números das três principais 'artérias': exportações, investimento e consumo privado.
Estas declarações de Centeno, sublinhe-se, surgiram no seguimento dos números mais recentes da execução orçamental, que revelaram que o défice das administrações públicas se fixou em 445 milhões de euros até julho, o que se traduz numa melhoria de 2.239 milhões de euros face ao mesmo período de 2018.
Aliás, o ministro português - que é também presidente do Eurogrupo - considera mesmo que a "última" crise pela qual Portugal passou foi "uma crise única", algo que não será observado "nos próximos tempos, com a mesma dimensão e com as mesmas características", até porque o país tem hoje "instrumentos" que não tinha "naquela altura".
Temos motivos para estar descansados?
Esta resposta de Centeno é que "Portugal atingiu o equilíbrio". O que é que isto significa? "Temos neste momento um défice público praticamente nulo e isso dá-nos a margem para deixar aquilo que são os efeitos automáticos que uma crise traz ao saldo orçamental sem ter de fazer medidas punitivas no momento de recessão", afirmou.
Além disso, continuou Mário Centeno, "todos os indicadores de solvabilidade das empresas estão muito melhores do que estavam em 2008" e, "apesar de a dívida continuar elevada, tem vindo a reduzir-se de forma muito significativa e está na tendência certa há tempo suficiente". A redução da elevada dívida foi, aliás, um dos pontos distinguidos pelo Financial Times sobre o qual o Governo português deve trabalhar.
"Este trabalho é para continuar", garantiu, defendendo que o segredo passa por o país "olhar para as crises económicas" e preparar-se para elas, mas "não tendo pânico das crises".