Alexandre Fonseca tem sido, nos últimos meses, muito crítico para com o regulador das comunicações, a Anacom - Autoridade Nacional de Comunicações, acusando-o de incapacidades no processo de implementação da quinta geração de internet móvel (5G).
Em específico, a Altice Portugal tem criticado o processo de libertação da faixa 700 MHz (Megahertz) da TDT, necessário para o desenvolvimento do 5G, considerando que com os atrasos está em risco a data de 01 de julho para a disponibilização do 5G na faixa dos 700 Mhz.
Hoje, numa conversa com jornalistas, em Lisboa, o presidente executivo da Altice Portugal voltou às críticas e considerou "lamentável e extremamente preocupante" a gestão do processo pela Anacom, afirmando que, com o calendário que prevê, a disponibilização do 5G pode não acontecer antes dos terceiro ou quarto trimestre de 2020.
Alexandre Fonseca disse ainda que os atrasos significam um custo para a empresa mas também para o país: "Trabalho na indústria há 20 anos e é a primeira vez que vejo uma situação destas. Está toda a gente insatisfeita, Governo, 'players', indústria, e tem impactos decisivos para nós enquanto país", afirmou.
Questionado sobre o impacto financeiro, não deu números precisos, mas falou em montantes significativos.
"O que estamos a perder em inovação, de projetos a passar ao lado de Portugal. Há muito negócio, que não é só telemóveis 5G, que devia estar a ser preparado. Aí o calculo é de dezenas de milhões de euros por ano", afirmou.
Segundo Alexandre Fonseca, a quinta geração móvel significa uma "mudança de paradigma" e não tem que ver apenas com mais largura de banda nos telefones, uma vez que hoje os consumidores ainda não esgotam a largura de banda, mas com a velocidade nas comunicações terminal-antena-terminal (latência) e a possibilidade de mais equipamentos estarem ligados à Internet (densidade, número de dispositivos conectados por quilómetro quadrado), o que disse que permite a 'internet das coisas', a automação industrial ou 'cirurgias à distância'.
"São negócios que o 5G permite e sem isso não há investimento (...). O 5G é fundamental para a indústria automóvel", afirmou, considerando que, face a outros países que estão adiantados, Portugal pode perder investimentos.
Alexandre Fonseca disse que, de momento, os operadores não têm informação sobre os mecanismos para atribuir o espectro (por exemplo, leilões), as obrigações de cobertura, o calendário de implementação.
Sobre o preço, disse que a Altice tem feito estimativas baseando-se no que cobrou a Itália no 5G (seis mil milhões de euros, mas num país bem maior do que Portugal) e o que cobrou Portugal aquando do 4G (900 milhões de euros), estimando um preço entre 900 e 1,2 milhões de euros, mas considerou que o preço também dependerá da lógica defendida pelas autoridades.
"Será uma lógica de fazer dinheiro [com a venda das licenças] ou será de baixar o preço de arranque mas de permitir um conjunto de obrigações de cobertura, de permitir o desenvolvimento de economias regionais", questionou.
O responsável defendeu que o preço das licenças seja mais baixo e que depois os operadores fiquem com obrigações de investimento.
"Se as licenças tiverem preço razoável vamos investir em cobertura, vias rápidas, ferrovia, zonas do país que hoje não têm cobertura", acrescentou.
O presidente da Altice mostrou áreas do país onde não há qualquer cobertura de rede móvel, que afetam 1,5% da população, defendendo parcerias entre o Estado e empresas privadas para realização desses investimento.
"Deveria ser aproveitado o momento de atribuição de licenças de 5G para se pensar em políticas públicas que garantam a igualdade de todos os cidadãos. Isso tem de ser num misto entre investidores privados e políticas públicas, só com investidores privados é impossível", afirmou, exemplificando com a parceria feita no Parque Nacional da Peneda-Gerês.