A polémica sobre a carne de vaca 'estalou' na semana passada quando a Universidade de Coimbra (UC) decidiu banir este tipo de alimento dos menus das cantinas sociais a partir de janeiro de 2020, por razões ambientais. Rui Rosa Dias, do IPAM, que promoveu um estudo sobre as tendências agroalimentares, aponta que a redução do consumo de carne é o caminho a seguir.
"Parece evidente que reduzir o consumo de carne é um caminho. O nosso estudo demonstrou isso mesmo. Portugal no período 2017-2027 terá tendência a reduzir o consumo de carne entre 5 a 10%. Menos carne, melhor carne", disse Rui Rosa Dias, em resposta às questões colocadas pelo Notícias ao Minuto.
Este ponto, na opinião do professor, é essencial, porque o preço vai deixar de ditar as escolhas dos consumidores, que começarão a preferir a qualidade e, por consequência, os produtos locais.
"No prazo de uma década, o preço vai deixar de ser o fator cuja preponderância na compra acaba por limitar, coadjuvado pelas fortes campanhas de mentiras promocionais, as melhores opções aos consumidores. A qualidade alimentar, estará associada à produção local", refere o professor.
Por este motivo, a carne será também desperdiçada em menores quantidades, apesar de continuar a fazer parte da dieta alimentar. A par disto, os produtores também terão de se adaptar à nova realidade, sendo mais transparentes com o consumidor:
"A minha perspetiva para daqui a 10 anos é que a carne continuará a ser um alimento integrante da nossa dieta alimentar. Será, não tenho qualquer dúvida, um alimento consumido e desperdiçado em menores quantidades. Por outro lado, para que o consumo de carne continue, em menores quantidades, mas continue, a agroindústria e a produção terão de demonstrar com verdade os modos de produção, transformação e distribuição", adianta ainda.
Nas últimas cinco décadas, a evolução da produção animal e vegetal foi tal que, hoje em dia, o desperdício alimentar ronda os 30%Desperdício alimentar ronda os 30%, mas tendência é diminuir
O consumo dos próximos anos deverá reger-se por um modelo de equilíbrio assente em três eixos: bom, limpo e justo. Por isso, o professor do IPAM acredita que o desperdício alimentar, que atualmente ronda os 30%, irá reduzir-se para metade no prazo de uma década.
"O que o nosso estudo indica é que o consumo de carne, mas não só carne, irá reduzir-se em Portugal, aliás, à semelhança do que está a ocorrer em muitos outros países desenvolvidos. Adicionalmente, indica também que o desperdício alimentar terá tendência a reduzir-se em 15% no prazo de uma década. (...) Ora, nas últimas cinco décadas, a evolução da produção animal e vegetal foi tal que, hoje em dia, o desperdício alimentar ronda os 30%", aponta Rui Rosa Dias.
Ainda assim, sublinha o professor, os nossos padrões alimentares comportam o consumo de carne, "a proteína animal é necessária", motivo pelo qual "educar, informar e agir" constituem o caminho para o que querem "marcar exemplarmente um novo paradigma".
Recorde-se que na base da decisão de banir carne de vaca das cantinas da Universidade de Coimbra está a convicção de que a eliminação da carne das cantinas a partir do início do próximo ano será o primeiro passo para, até 2030, tornar a UC "a primeira universidade portuguesa neutra em carbono", apontou o reitor da instituição, Amílcar Falcão.
A carne de vaca será substituída "por outros nutrientes que irão ser estudados, mas que será também uma forma de diminuir aquela que é a fonte de maior produção de CO2 que existe ao nível da produção de carne animal", adiantou o reitor.
Se a iniciativa recebeu aplausos de um lado, do outro foi merecedora de várias críticas por parte de produtores e até mesmo do ministro da Agricultura, Capoulas Santos, que se pronunciou indiretamente sobre o assunto mas mostrou a sua posição sobre o assunto.