Apesar dos gastos com habitação serem os que mais pesam no orçamento das famílias brasileiras, historicamente a alimentação aparecia em segundo lugar, tendo sido superada pela primeira vez, no ano passado, por despesas com transporte.
Em média, as despesas com habitação correspondem a 36,6% de todas as despesas de consumo das famílias brasileiras, sendo que no estudo anterior, realizado entre 2008 e 2009, essa taxa correspondia a 35,9%.
Há dez anos, as despesas com a alimentação comprometiam 19,8% do orçamento familiar, e, segundo a nova sondagem do IBGE, esse valor foi reduzido para 17,5% em 2018. Contudo, apesar das despesas com transportes apresentarem uma queda em relação ao estudo anterior, passando de 19,6% para 18,1%, conseguiu superar as despesas com alimentação.
Comer fora de casa tem sido uma opção para cada vez mais pessoas. Do total das despesas das famílias brasileiras com alimentação, quase um terço (32,8%) é dedicado à refeições fora do domicílio.
No entanto, de acordo com o responsável pela pesquisa, André Martins, "o entendimento do orçamento doméstico, no que se refere às despesas, muda de acordo com a classe de rendimento das famílias", como é o caso da alimentação.
"Para as famílias que formam a classe de maiores rendimentos, as despesas com alimentação, que ronda os 2.061 reais (462 euros) mensais, são mais que o triplo do valor médio do total das famílias do país (658,23 reais, o equivalente a 147,76 euros) e mais de seis vezes o valor da classe com rendimentos mais baixos, que gasta em média, mensalmente, 328,74 reais (73,80 euros)", diz o IBGE.
Para André Martins, quando se olha para despesas como as de saúde (6,5%), a participação percentual é bastante semelhante entre os dois extremos de rendimentos, mas varia no tipo de gastos.
"Nas famílias de maiores rendimentos, essas despesas vão para plano de saúde [2,9%]. Nas famílias com menores rendimentos, são despesas com remédios [4,2%]", frisou o especialista.
A despesa total média mensal familiar no Brasil foi de 4.649,03 reais (cerca de 1.043 euros) em 2018, sendo 7,2% mais alta nas áreas urbanas (4.985 reais, o que equivale a 1.118 euros) e 45,3% menor nas áreas rurais (2.543 reais, cerca de 570 euros).
O estudo analisou despesas com "alimentação, habitação, vestuário, transporte, higiene e cuidados pessoais, assistência à saúde, educação, cultura, fumo (tabaco, narguilé, cigarros eletrónicos e acessórios para tabagismo), serviços pessoais, e outras despesas".
Fora das despesas de consumo considerados pelo IBGE, ficaram gastos com impostos, contribuições trabalhistas, serviços bancários, pensões, mesadas ou doações.
Esta foi a terceira edição da POF, que substituiu o Estudo Nacional da Despesa Familiar, realizado entre os anos de 1974 e 1975.