"Acho que o ano de 2020 vai ser um ano de muita conflitualidade laboral. (...) O que está no programa do Governo vai agravar os problemas dos trabalhadores, em vez de os resolver. Não vai ser um ano fácil", disse a coordenadora da Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública (FNSFP), Ana Avoila, em entrevista à agência Lusa.
Ana Avoila lembrou, a propósito, que o Governo quer negociar com os sindicatos da administração pública um plano estratégico que contém medidas que os sindicatos consideram inaceitáveis.
"Mas, os trabalhadores da administração pública já perceberam que é preciso lutar, nomeadamente por melhores salários", afirmou a sindicalista, reafirmando que a FNSFP reivindica aumentos de 90 euros por trabalhador.
Este é o aumento salarial que a CGTP defende para os setores público e privado.
"Este aumento é necessário porque não podemos continuar a viver num país, que apesar de estar na União Europeia, continua a ter salários muito baixos e impostos sobre o rendimento do trabalho elevadíssimos", defendeu Ana Avoila.
Segundo a sindicalista, para haver de facto uma aproximação às condições de vida da União Europeia, "tem que haver um paradigma diferente".
"Não vale a pena dizer que não há dinheiro", disse, acrescentando que o Governo destinou este ano 70 milhões de euros para aumentos salariais na função pública, mas destinou 120 milhões de euros para aquisições, ou seja para pagar a advogados externos, projetos técnicos ou secretárias dos gabinetes", disse.
Na sua opinião, os aumentos salariais de 0,3% propostos pelo Governo para a administração Pública, ou mesmo que venham a ser acima, não resolvem nada, nem tão pouco uma subida dos salários mais baixos, o que cria muitas injustiças e distorções.
"Por isso, as lutas são necessárias", defendeu.
Para Ana Avoila, a manifestação nacional que está marcada para 31 de janeiro, com emissão de pré-aviso de greve para possibilitar a deslocação dos trabalhadores a Lisboa, mostra já a predisposição dos trabalhadores para combater as propostas do Governo socialista.
"A luta do dia 31 não é um pontapé de saída, é uma marca, porque estamos convencidos que vai ter muitos milhares de trabalhadores, e é um sinal para quem quiser ver", afirmou a sindicalista, recomendando sensatez ao Governo de António Costa.
Aos sindicatos da administração pública recomendou que continuem a apostar na organização e na "forte ligação aos trabalhadores", nos seus locais de trabalho, para melhor responderem aos desafios futuros.
"É impensável que o movimento sindical não esteja organizado para enfrentar o que aí vem, sem organização não se consegue nada", considerou, defendendo que os trabalhadores e os seus sindicatos têm de se organizar para evitar que o Governo consiga dar "mais um passo contra os trabalhadores".