Esta semana o cerco em torno de Isabel dos Santos - e dos seus mais próximos - apertou, após terem sido divulgados documentos que provam, alegadamente, o desvio de fundos públicos em Angola para offshores relacionadas com a empresária angolana. A investigação, conhecida por Luanda Leaks, levou até à demissão de administradores não executivos na NOS e ao 'rompimento' de vários negócios.
Uma reportagem emitida no domingo à noite, em Portugal através da SIC, e realizada com base na investigação do consórcio internacional de jornalistas, revelou os esquemas utilizados por Isabel dos Santos para desviar dinheiro público enquanto esteve à frente da petrolífera estatal angolana Sonangol.
Bastaram, depois, poucos dias para que a investigação começasse a ter repercussões em território nacional, onde a empresária tem investimentos em vários setores, desde a banca às telecomunicações.
Isabel dos Santos foi constituída arguida em Angola por alegada má gestão e desvio de fundos durante a passagem pela petrolífera estatal Sonangol, mas não está sozinha. Com estatuto de arguidos estão também Sarju Raikundalia, ex-administrador financeiro da Sonangol, Mário Leite da Silva, gestor de Isabel dos Santos e presidente do Conselho de Administração do BFA, Paula Oliveira, amiga de Isabel dos Santos e administradora da NOS, e Nuno Ribeiro da Cunha.
Este último, sublinhe-se, era gestor de Isabel dos Santos e diretor da unidade de 'private banking' (banca privada, na tradução em português) no EuroBic. Foi encontrado morto em sua casa, na quarta-feira à noite, ao que tudo indica, depois de ter cometido suicídio, suspeitam as autoridades.
Restam, por isso, quatro arguidos. Dois deles são portugueses: Paula Oliveira e Mário Leite da Silva, os dois com posições de administradores não executivos na operadora de telecomunicações NOS. Ambos anunciaram a sua demissão aos respetivos cargos na quinta-feira. Juntou-se ainda Jorge de Brito Pereira, chairman da NOS, que apesar de não ter sido constituído arguido, é também um dos visados do Luanda Leaks.
Em pleno 'furacão', EuroBic tenta resguardar-se
O setor da banca é sensível e, por isso, o EuroBic vai tentando resguardar-se no meio deste 'furacão'. Na segunda-feira o Banco de Portugal (BdP) pediu informações à instituição, as quais seriam posteriormente avaliadas. Entretanto, o EuroBic anunciou também que não faria qualquer negócio com Isabel dos Santos - a sua principal acionista, com 42,5% do capital, mas não por muito tempo.
Dois dias depois, o EuroBic anunciava que Isabel dos Santos iria retirar-se do capital da instituição bancária e que até já havia interessados na sua participação - este negócio, saliente-se, estará na mira não só do BdP, como também do Banco Central Europeu.
Participação de Isabel dos Santos no EuroBic está à venda e já há "interessados"© Getty Images
Ainda na banca, destaque para a demissão de Mário Leite da Silva do Banco de Fomento de Angola (BFA), uma saída anunciada também na quinta-feira, com efeitos a partir de 22 de janeiro.
Entretanto, questiona-se também o papel das várias auditoras e consultoras que foram acompanhando os negócios da empresária Isabel dos Santos. Sobre isto, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) pronunciou-se, pela primeira vez, esta quinta-feira, justificando que está já a exercer "ações de supervisão" junto das empresas envolvidas cotadas em bolsa e das auditoras.
Isabel dos Santos fez visita relâmpago a Portugal
Numa tentativa de recolher mais informação e de "pedir ajuda", como o próprio descreveu, o procurador-geral da República (PGR) de Angola, Hélder Pitta Grós, veio a Portugal encontrar-se com a homóloga portuguesa, Lucília Gago. À saída do encontro, nenhuma das partes prestou declarações.
PGR angolana e portuguesa estiveram reunidas na quinta-feira© Getty Images
Porém, o Jornal de Notícias conta na edição desta sexta-feira que, a essa mesma hora, Isabel dos Santos partia de Portugal após ter feito uma visita relâmpago. A empresária angola esteve cá, com passaporte angolano, para "conceder plenos poderes de representação aos seus advogados", de acordo com o jornal, que cita fontes próximas dos negócios da filha do antigo presidente de Angola.
A hora de saída foi óbvia e tão cedo Isabel dos Santos não deverá regressar a território luso, porque há um acordo de extradição entre Portugal e Angola, no caso de ser emitido contra a empresária um mandado de captura internacional.
O voo partiu com destino a Londres, mas Isabel dos Santos tem também passaporte russo e casas em vários países, pelo que o seu paradeiro pode já não ser o mesmo à hora de publicação deste artigo.