"O setor vai sobreviver, mas a questão é quem é que vai efetivamente escapar", afirmou hoje em declarações à agência Lusa o diretor-geral da A4E, Thomas Reynaert.
Para o líder da associação sediada em Bruxelas, que representa 16 grandes grupos de aviação, entre os quais TAP, Air France-KLM, Ryanair e easyJet e mais de 70% do setor aeronáutico europeu, a sobrevivência dos negócios das transportadoras "depende muito dos apoios individuais que as companhias aéreas tiverem dos governos e da Comissão Europeia".
"Vamos, seguramente, ver menos operadores no mercado este ano e este é um processo que talvez continue no próximo ano", antecipou Thomas Reynaert.
Segundo o responsável, "a condensação do setor tem vindo a ser uma realidade nos últimos anos e, de forma gradual, tem havido algumas companhias aéreas a entrar em falência devido ao aumento dos desafios, das exigências e ainda das tarifas aplicadas às transportadoras".
E "claro que esta crise acelera esse processo", notou Thomas Reynaert, para quem "é óbvio que vai existir, infelizmente pelas razões erradas, uma ainda maior condensação do setor, não apenas este ano, mas também em 2021".
Para tentar conter o surto, os governos da União Europeia (UE) estão a adotar medidas como o confinamento dos cidadãos e o fecho ou controlo de fronteiras, tendo ainda sido adotada uma suspensão das viagens (nomeadamente as aéreas) não essenciais, medidas que afetam severamente o setor da aviação.
Estimam-se, para já, perdas de 70 mil milhões de euros (76 mil milhões de dólares) nas receitas com passageiros para as companhias aéreas europeias em 2020, que são das mais afetadas do mundo pela pandemia de covid-19.
Além destas quebras na faturação (que são de 46% face ao período homólogo de 2019), assiste-se já a reduções no tráfego aéreo na ordem dos 80% a 90%.
Nas declarações à Lusa, Thomas Reynaert observou que as companhias aéreas europeias estão já com "enormes desafios de liquidez", mesmo as que tiveram um bom desempenho no ano passado, e estimou que "vai demorar até o setor recuperar".
Por isso, reivindicou apoios: "Para podermos continuar a pagar aos funcionários e para podermos continuar a pagar os custos de operação, mesmo não efetuando voos, esperamos que a UE trace uma abordagem coordenada e estruturada, [...] já que as restrições e as suspensões às viagens variam de Estado-membro para Estado-membro, e que os próprios países adotem medidas para apoiar as companhias aéreas, seja em forma de empréstimos, de redução das tarifas de navegação aérea ou de suspensão das taxas aeroportuárias".
"Há muitas coisas que os Estados-membros podem fazer, além da UE, para aliviar o setor", destacou.
Ainda assim, o responsável saudou a "rápida aprovação" pelas instituições europeias da suspensão temporária das regras para atribuição dos 'slots' às companhias aéreas, que obrigam a 80% de utilização destas faixas horárias para descolagem e aterragem, medida que estará em vigor entre março e outubro para aliviar a pressão no setor.
"Será importante para termos flexibilidade na questão da atribuição dos 'slots' e para retomarmos as nossas atividades assim que possível", disse.
Numa altura em que os voos comerciais estão praticamente parados, Thomas Reynaert referiu ainda que as companhias aéreas estão a apostar no transporte de mercadorias, "nomeadamente em aeronaves de passageiros para, assim, garantir a circulação de bens".
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 530 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram cerca de 25.000.