África pode perder 88 mil milhões de dólares e entrar em recessão

O presidente do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) disse hoje que o continente africano pode perder até 88,3 mil milhões de dólares devido à covid-19, acrescentando que a maioria dos países pode entrar em recessão económica.

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Lusa
08/04/2020 15:29 ‧ 08/04/2020 por Lusa

Economia

Covid-19

"O BAD estima que a covid-19 possa custa ao PIB de África entre 22,1 mil milhões de dólares [20,2 mil milhões de euros], no cenário base, e 88,3 mil milhões de dólares [80,8 mil milhões de euros] no pior cenário", disse o banqueiro, num artigo em que analisa as principais previsões do banco para África.

No texto, enviado à Lusa, Akinwumi Adesina disse que "isto é equivalente a uma contração do crescimento do PIB entre 0,7 e 2,8 pontos percentuais em 2020, sendo até provável que África caia em recessão este ano se a situação atual continuar".

Adesina alertou que os défices orçamentais deverão aprofundar-se entre 3,5 e 4,9 pontos percentuais, o que aumenta a diferença entre o financiamento necessário e o financiamento recebido para entre 110 e 154 mil milhões de dólares [101 e 149,6 mil milhões de euros].

"As nossas estimativas indicam que a dívida pública total em África pode aumentar, no cenário base, de 1,86 biliões de dólares [1,7 biliões de euros] no final de 2019 para mais de 2 biliões de dólares [1,8 biliões de euros] em 2020, o que compara com os 1,9 biliões de dólares [1,6 biliões de euros] que prevíamos no cenário sem pandemia", escreveu Adesina, lembrando que o Banco Mundial, em março, previa que o valor chegasse a 2,1 biliões de dólares [1,9 biliões de euros] no pior cenário.

É devido a estes números, disse o banqueiro, que são necessárias "ações ousadas", que passam pela defesa de um alívio na dívida dos países africanos, mais mal preparados para adotarem as medidas de isolamento social necessárias para conter a propagação da covid-19.

"Devemos temporariamente adiar a dívida devida aos bancos de desenvolvimento multilaterais às instituições financeiras internacionais", defendeu Adesina, argumentando que "isto pode ser feito mudando o perfil dos empréstimos, para criar espaço orçamental para os países lidarem com esta crise".

Segundo esta ideia, o valor dos empréstimos das instituições financeiras internacionais a África em 2020 podia ser adiado, o que significa, esclareceu, apenas um adiamento e não um perdão: "Estou a defender um adiamento temporário, não o perdão; o que é bom para a dívida comercial e bilateral tem de ser bom para a dívida multilateral", apontou.

O texto de Adesina aborda assim uma das principais questões relativamente ao perdão de dívida que o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e outras instituições têm defendido, salientando que, para o BAD, não deve haver um perdão da dívida, mas sim um adiamento dos pagamentos para dar espaço aos países para combaterem a pandemia.

Adiando a dívida em vez de a perdoar evita-se o perigo moral, e as agências de notação financeira ficarão menos inclinadas a penalizar qualquer instituição relativamente ao risco potencial de perderem o estatuto de credor 'preferido', ou seja, aquele que recebe sempre em caso de 'default' de um devedor.

"As instituições financeiras bilaterais e multilaterais têm de trabalhar em conjunto com os credores comerciais em África, especialmente para adiar os pagamentos da dívida e dar a África a margem orçamental de que precisa", alertou o banqueiro, que conclui defendendo também o levantamento das sanções económicas e o cessar-fogo por razões humanitárias.

O número de mortes provocadas pela covid-19 em África ultrapassou as 500 nas últimas horas num universo de mais de 10.500 casos registados em 52 países, de acordo com a mais recente atualização dos dados da pandemia naquele continente.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 1,4 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 82 mil.

Dos casos de infeção, cerca de 260 mil são considerados curados.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

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