As contas de Centeno: Uma queda do PIB inédita e dois anos para recuperar

O impacto da pandemia da Covid-19 na economia nacional vai fazer-se sentir de forma mais intensa neste trimestre, que termina em junho. Centeno estima uma contração que "será quatro a cinco vezes pior que alguma vez chegámos a ver". Os números de 2019 só devem voltar a ser vistos daqui por dois anos. Nacionalizações estão em cima da mesa?

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Beatriz Vasconcelos
14/04/2020 08:50 ‧ 14/04/2020 por Beatriz Vasconcelos

Economia

Centeno

O país ainda lida com uma crise de saúde, por causa do novo coronavírus, e neste momento esse é o foco, mas nesta competição corre a par e passo uma crise económica. O ministro das Finanças, Mário Centeno, estima que neste trimestre, com a "economia parada", a contração do produto interno bruto (PIB) será inédita e sobre a recuperação - pelo menos para os números registados em 2019 - a meta andará por volta dos dois anos

"O segundo trimestre vai ter uma variação homóloga em relação ao segundo trimestre do ano passado de uma grandeza que será com certeza próximo de quatro, cinco vezes o máximo do que alguma vez vimos o PIB num trimestre em Portugal cair", afirmou o ministro das Finanças, em entrevista à TVI, na segunda-feira.

É preciso recuarmos, por isso, até ao quarto trimestre de 2012, altura em que se registou uma quebra do PIB na ordem dos 4,3%. Multiplicando este valor por "quatro, cinco vezes", Centeno estima que a contração deste trimestre poderá andar perto dos 20%.

Porém, o ministro das Finanças espera que esta contração possa ser diluída ao longo do ano - mas, claro, isto depende do tempo que se leva para controlar o novo coronavírus. As expectativas de Centeno para o acumulado do ano não apontam para uma queda do PIB na ordem dos dois dígitos, ou seja, não estima uma quebra superior a 10%

Os números com que o Governo está a trabalhar, neste momento, apontam para uma queda de 6,5% do PIB anual por cada 30 dias úteis em que a economia esteja paralisada devido à Covid-19. Além disso, o impacto "não é linear" e vai-se deteriorando à medida que o tempo passa.

Relativamente à dimensão do défice em 2020 afirmou não ter ainda números para avançar com essa projeção. "Pensamos que os estabilizadores automáticos possam representar, juntamente com as medidas de apoio ao emprego, números próximos dos 6,7 mil milhões de euros", referiu.

Seja como for, para mais certezas teremos de esperar pelas novas estimativas sobre o impacto na economia, que serão vertidas no Programa de Estabilidade, que este ano não será entregue a 15 de abril, tal como Bruxelas já admitiu.

A pandemia da Covid-19 está a fazer os países sofrerem "um choque de escala absolutamente inimaginável", pelo que quando, daqui a quatro, cinco meses, houver estimativas do PIB para o segundo trimestre perceber-se-á "que nada disto tem qualquer comparação com qualquer coisa próxima que tenhamos vivido", antecipou o ministro das Finanças.

Com olhos postos no futuro, quanto tempo para recuperar?

Questionado, na mesma entrevista, sobre a recuperação, Centeno adiantou que a economia portuguesa poderá regressar aos números registados em 2019 dentro de dois anos, isto é, se a crise provocada pela Covid-19 for contida no segundo trimestre.

De recordar que o ano passado foi o primeiro em democracia em que Portugal fechou as contas públicas com excedente orçamental.

Ainda assim, Centeno reiterou que o país está mais preparado agora para enfrentar esta situação do que estava em 2011, quando teve de avançar para um resgate financeiro, e acentuou que a situação que teremos em 2020 não será muito diferente da de ouros países europeus.

Tal como o primeiro-ministro referiu em entrevista à agência Lusa, também Mário Centeno afastou o cenário de medidas de austeridade. "O que temos de garantir é que há dinheiro para acudir à fase aguda da crise", referiu, acentuando que esta é uma crise temporária, que não é estrutural.

Nacionalizações estão em cima da mesa?

Questionado sobre esta hipótese - em linha com as declarações da comissária europeia da Concorrência, Margrethe Vestager, que defendeu que os países da União Europeia devem comprar ações em empresas da região para as proteger da ofensiva chinesa -, Centeno admitiu a nacionalização da TAP como uma possibilidade de viabilizar a companhia, recusando descartar opções de recuperação da economia.

"A TAP, por exemplo, tem desafios únicos. Há muitas formas de intervir, mas essa também é uma delas", afirmou Mário Centeno, quando confrontado com uma eventual nacionalização da transportadora em que o Estado é o maior acionista com 50% do capital.

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