"Muitas empresas precisam que o Estado lhes pague grande parte dos custos correntes permanentes (laborais e alguns fornecimentos e serviços externos) pelos meses de paragem forçada. Não que lhes aumentem o endividamento", defende o ministro das Finanças dos dois primeiros governos liderados por Cavaco Silva.
Para o economista, as medidas adotadas pelo Estado "deviam ir rapidamente aos prejuízos" causados "pela 'paragem' das empresas" e "não apenas à tesouraria", e esse apoio tem de ser feito "sem burocracias."
Admitindo que, "apesar de um pouco atrasado", o Governo "começou a ter medidas económicas à altura", o economista lembra que estes são tempos excecionais, em que "as empresas estão paradas e a causa da paragem não é delas".
Por isso, Miguel Cadilhe, defende que "o grande, raro, responsável e histórico 'intervencionismo' do Estado" deve servir "para estas ocasiões."
E, como tal, considera, não apenas justo, "como necessário e possível", que se adote "uma "política orçamental extraordinária, que tem de ser acomodável num especial quadro supra-anual longo", até porque, "a alternativa seria ver o vírus destruir, ainda mais, a capacidade produtiva".
"Como financiar esse intervencionismo do Estado, que é membro da zona euro", seria "outra face da questão", sublinha.
Nas respostas encontradas pelo Estado, o economista destaca o 'lay-off', "finalmente ultra simplificado", como a medida mais importante.
"É uma resposta parcial. O Estado substitui a empresa no pagamento de uma parte dos custos do trabalho parado; os trabalhadores perdem parte do salário; a empresa suporta o restante do salário e suporta todos os outros custos da paragem", explica o economista.
Miguel Cadilhe interroga-se ainda pelo facto de o 'lay-off' não estar a ser aplicado no Estado. "Por que razão os trabalhadores do Estado estão a ser mais bem tratados do que os trabalhadores privados?", pergunta o economista, lembrando que os funcionários do setor privado estão a perder parte do salário em 'lay-off' para manter os empregos e no Estado também há milhares de funcionários parados, mas sem a respetiva perda de salário.
Em termos macroeconómicos, Miguel Cadilhe diz não haver dúvidas de que haverá "uma recessão grave" a nível mundial, que a crise será "desigualmente distribuída pelos países" e que irá provocar, não só quebra do produto, mas também "no emprego" e "desequilíbrios das empresas e das finanças públicas".
Ainda assim, o economista diz que será uma crise diferente da "chamada Grande Depressão, que a História registou em 1929 e anos seguintes."
Hoje "dispomos de outra experiência e de outro saber da política económica" e, como tal, o economista diz acreditar que "há ou haverá uma boa conjugação das políticas monetárias orçamentais".
Por outro lado, "as causas da crise são de natureza diferente" e, como tal, Miguel Cadilhe acredita que "a duração da crise hoje será menor".
O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que a economia mundial tenha uma recessão de 3% em 2020, fruto do apelidado "Grande Confinamento" devido à pandemia de covid-19, de acordo com as Perspetivas Económicas Mundiais divulgadas terça-feira.
Para Portugal, o Fundo prevê uma contração da economia de 8% em 2020 e que o desemprego atinja os 13,9%.
Como forma de tentar minorar os efeitos da crise económica provocada pela covid-19, o Governo tem adotado várias medidas, onde se destaca a criação do 'lay-off' simplificado e o lançamento de linhas de crédito.
O 'lay-off' simplificado, em vigor desde 27 de março, é uma medida excecional e temporária de proteção dos postos de trabalho que permite às empresas a redução temporária do período normal de trabalho ou suspensão de contrato de trabalho, no âmbito da pandemia da doença covid-19.
O objetivo é apoiar a manutenção dos postos de trabalho e evitar despedimentos por razões económicas durante a crise relacionada com o novo coronavírus.
Até 04 de abril já se tinham candidatado a esta medida 32 mil empresas onde trabalhavam 552 mil pessoas.
Também no início da crise, o Governo anunciou linhas de crédito no valor de 3.000 milhões de euros, com garantia de Estado, destinadas a suprir dificuldades de tesouraria de empresas, tendo, posteriormente, pedido à Comissão Europeia autorização para aprovar novas linhas de crédito, no valor global de 7.000 milhões de euros.