De acordo com o relatório e contas da instituição, a que a Lusa teve hoje acesso, apesar do resultado líquido do exercício de 2019, a administração do BCA decidiu seguir a recomendação do Banco de Cabo Verde (BCV) e não vai distribuir dividendos aos acionistas.
No documento, que confirma um resultado líquido em 2019 de 1.170 milhões de escudos (10,6 milhões de euros), um crescimento de 623,2% face a 2018 (então fortemente afetado por uma decisão judicial sobre o fundo de pensões), refere-se que "era pretensão da administração propor aos acionistas a distribuição de 50% desse resultado".
"Contudo, em face do comunicado do BCV de 26 de março de 2020, no qual como medida preventiva aos efeitos nefastos da covid-19 o regulador recomenda aos bancos a não distribuição de dividendos referentes ao ano de 2019, medida que a administração do BCA acomodou, pelo que irá propor aos acionistas a retenção dos resultados de 2019, traduzindo-se esta retenção num rácio de solvabilidade de 19,16%", lê-se.
Através do Banco Interatlântico, que detém igualmente em Cabo Verde, a Caixa Geral de Depósitos (CGD) controla 52,65% do BCA, ao que se soma uma participação própria de 6,76%. O Instituto Nacional da Previdência Social de Cabo Verde detém uma participação de 12,54% no BCA.
Desde 2019 que a CGD tem em curso o processo de venda da participação no BCA, optando por ficar no mercado cabo-verdiano apenas com o Banco Interatlântico. Esta venda da participação social no BCA, que no total ultrapassa um peso de 59%, estava prevista no plano estratégico da CGD para 2017-2020.
No relatório e contas de 2019, o conselho de administração do BCA, liderado por Francisco Pinto Machado Costa, destaca que o lucro "não só registou um valor superior ao orçamentado, como se destaca por ser o melhor resultado líquido dos 27 anos de história do banco".
"É fruto da estratégia que o banco tem vindo a seguir nos últimos anos com um enfoque na melhoria do Produto Bancário conjugado com um apertado controle dos seus custos de exploração e associado a um muito rigoroso acompanhamento do risco do crédito", lê-se.
Admitindo os efeitos, este ano, da crise financeira provocada pela pandemia de covid-19 no setor bancário, e concretamente no BCA, o relatório e contas também reconhece o desempenho positivo até ao final do primeiro trimestre.
"Face a um ano económico muito satisfatório em 2019, as perspetivas para 2020 eram no final de 2019 e início de 2020 igualmente muito positivas, as quais estão refletidas num primeiro trimestre de 2020 com uma melhoria do resultado operacional superior a 10% face ao período homólogo de 2019", acrescenta.
O sistema financeiro cabo-verdiano funciona com sete bancos comerciais, mantendo o BCA a liderança, com uma quota de mercado, no final de 2019, a rondar 31,3% no crédito concedido e de 35,5% nos depósitos. A instituição conta com 34 balcões, distribuídos por todo o arquipélago, com mais de 450 trabalhadores.
O saldo dos depósitos de clientes atingiu 78.485 milhões de escudos (712 milhões de euros) no final de 2019, um crescimento de 1,3%, enquanto o total de novos financiamentos concedidos no mesmo ano atingiu os cerca de 8.990 milhões de escudos (81,5 milhões de euros), um crescimento de 2,2%.
Globalmente, a carteira de crédito do BCA rondava no final de 2019 os 53.544 milhões de escudos (486 milhões de euros) e o incumprimento diminuiu em cerca de 710 milhões de escudos (6,5 milhões de euros), equivalente a -16,2%, cifrando-se em dezembro em 3.700 milhões de escudos (33,5 milhões de euros).
O BCA fechou 2019 com um ativo total de 87.425 milhões de escudos (793 milhões de euros), uma quebra de 4,1% face ao ano anterior, e um passivo que aumentou 1,2%, para 78.897 milhões de escudos (716 milhões de euros).
O crédito vencido situava-se no final de 2019 em 9,9% do total, quando um ano antes era de 11,7%, com as imparidades a cobrirem 75,1% do total.
O produto bancário do BCA subiu 8,2% em 2019, para 3.442 milhões de escudos (31,2 milhões de euros).