Controlo da Covid-19 em Macau contrasta com insucesso económico

O ano que agora termina fica marcado em Macau pelo sucesso da contenção da pandemia, mas com custos económicos sem precedentes para o território, que ainda chorou a morte do 'pai' dos casinos, Stanley Ho.

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Lusa
25/12/2020 09:42 ‧ 25/12/2020 por Lusa

Mundo

Covid-19

 

Macau, onde houve até agora 46 infeções com o vírus da covid-19, mas não tem registo de novos casos há mais de cinco meses, está praticamente fechada ao resto do mundo nos seus cerca de 30 quilómetros quadrados, sob forte controlo fronteiriço, com estimativas de quebra de 60,9% do PIB em 2020, fruto da diminuição do turismo e das consequentes quebras nas receitas do jogo.

A história de sucesso no controlo da pandemia começou logo em 02 de janeiro, cerca de 15 dias depois de o novo chefe do Executivo ter tomado posse, quando Macau, uma das cidades com maior densidade populacional do mundo, anunciou o controlo de temperatura a todos os passageiros de voos provenientes de Wuhan, no centro da China, onde o novo coronavírus foi detetado no final de dezembro de 2019.

Duas semanas depois, as autoridades alargaram o controlo da temperatura corporal a todos os turistas provenientes da China e os casinos da capital mundial do jogo tomaram a mesma medida à entrada das salas de jogo, num momento que coincidia com o período de viagens mais movimentado na China, por ocasião do Ano Novo Lunar.

Em 22 de janeiro, Macau identificou o primeiro caso de infeção com o novo coronavírus, uma mulher de 52 anos, comerciante, oriunda de Wuhan, e no mesmo dia as autoridades garantiram o fornecimento de milhões de máscaras para a população e anunciaram um plano para que cada pessoa pudesse adquirir dez máscaras a cada dez dias por menos de um euro. O início das aulas foi suspenso por tempo indeterminado.

Quando foram registados os dois únicos casos locais em Macau, no início de fevereiro, o chefe do Executivo, Ho Iat Seng, anunciou o encerramento dos casinos por 15 dias e o fecho de cinemas, teatros, espaços de diversão noturna e espaços públicos e enviou para casa funcionários públicos, que trabalham à distância.

A cidade, que normalmente recebe mais de três milhões de visitantes por mês, ficou praticamente deserta.

Macau conseguiu estancar a primeira fase do surto registando apenas 10 casos da doença, mas os negócios ligados à indústria do turismo e do jogo sofreram quebras nunca vistas, com a restauração, lentamente, a não resistir à falta de movimento nas ruas.

O Governo de Macau injetou centenas de milhões de euros da sua gigantesca reserva orçamental na economia e anunciou benefícios fiscais para empresas e população, uma linha de empréstimos bonificados para as Pequenas e Médias Empresas e medidas de apoio social.

A população ficou isenta do pagamento das tarifas de energia elétrica e de água entre março e maio, e as autoridades anunciam vales de consumo eletrónicos para cada residente, na esperança de colmatar a perda de milhões de visitantes.

As medidas antiepidémicas, centradas no controlo fronteiriço, na intensificação da higiene pessoal, no rastreio de casos suspeitos e no uso de máscaras, mostraram-se eficazes, já que o território ficou 40 dias sem registar qualquer infeção.

Com a chegada da pandemia à Europa e aos Estados Unidos, muitos residentes de Macau começaram a regressar ao território e com eles regressou o vírus: no dia 14 de março, uma sul-coreana que viajou do Porto foi o primeiro caso registado nesta segunda e última fase.

Uma vez mais, as autoridades foram rápidas a reagir e a apertar o 'cerco' nas fronteiras: quem chegasse ao território, com exceção da China continental, Taiwan e Hong Kong, teria de ficar em quarentena 14 dias num hotel. Uma medida que foi depois ainda mais rigorosa, permitindo apenas que residentes pudessem entrar em Macau, com um teste negativo e com a obrigatoriedade de quarentena em hotéis.

Os hotéis começaram a encher-se, não de visitantes, mas de milhares de residentes, na maioria estudantes, que regressavam de outros países, fugindo da pandemia que se alastrava por todo o mundo.

No dia 26 de maio, altura em que a pandemia estava estagnada, morreu Stanley Ho, aos 98 anos, um dos homens mais ricos da Ásia que fica para a história como o magnata dos casinos de Macau, terra que abraçou como sua e cujo desenvolvimento contemporâneo está ligado ao império do jogo que construiu.

Ainda em maio, houve acusações de que as autoridades de Macau praticaram atropelos à liberdade de expressão e que utilizaram a covid-19 para silenciar temas delicados que Pequim não aceita.

As autoridades cancelaram uma exposição sobre o movimento democrático chinês que resultou no massacre de Tiananmen, em 1989, e um mês depois proibiram pela primeira vez em 30 anos uma vigília sobre Tiananmen, que devia realizar-se no dia 04 de junho. A Polícia acabou mesmo por deter nessa noite duas jovens com velas, por suspeita de reunião ilegal.

No dia seguinte, um autocarro vermelho com 40 pessoas circulou e parou em vários pontos de Macau, em apoio à lei da segurança nacional que a China acabou por impor este ano a Hong Kong, sem a intervenção da polícia.

Macau registou em 25 de junho o último caso de covid-19 e, a partir daí, paulatinamente, as autoridades, nunca descorando o controlo epidémico, foram-se focando cada vez mais na crise económica.

O território vive, desde então, numa aparente normalidade, com as escolas, empresas, casinos e hotéis, bares, restaurantes, ginásios abertos, mas faltam os milhões de visitantes, que injetam milhares de milhões de patacas na economia local.

As incertezas no território são muitas, com as operadoras de jogo a apresentarem centenas de milhões de euros em prejuízos no terceiro trimestre e a dispensarem milhares de trabalhadores, na esmagadora maioria trabalhadores não-residentes.

Em 23 de setembro, as autoridades chinesas retomaram a emissão de vistos individuais e de grupo para o território, suspensos desde o início da pandemia, o que tem resultado numa subida gradual dos visitantes, ainda que muito abaixo dos habituais números, e incapazes de alavancar a economia de Macau.

Os casinos tinham fechado 2019 com receitas de 292,4 mil milhões de patacas (cerca de 24,7 mil milhões de euros). Este ano, até novembro, arrecadaram 52,623 mil milhões de patacas (5,5 mil milhões de euros).

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