Ao final da sessão, as ações preferenciais da Petrobras, que foram as mais negociadas e as que mais perderam valor, caíram 21,51%, enquanto as ordinários afundaram em 20,48%.
Dessa forma, especialistas de mercado calculam que a petrolífera, a maior e mais estratégica empresa do Brasil, perdeu mais de 72 mil milhões de reais (cerca de 10,8 mil milhões de euros) em valor de mercado.
As quedas acentuadas refletem a cautela dos investidores diante das mudanças anunciadas na estatal na última sexta-feira por Bolsonaro, que levantaram dúvidas no mercado financeiro sobre o compromisso do chefe de Estado com o liberalismo económico.
Diante desse cenário, as ações ordinárias do estatal Banco do Brasil também figuraram entre as que mais perderam valor nesta segunda-feira, com queda de 11,65%.
Por outro lado, em terreno positivo, os títulos preferenciais da rede de retalho Lojas Americanas destacaram-se, liderando os maiores lucros da sessão com uma expressiva subida de 19,88%.
As ações ordinárias da fabricante de aeronaves Embraer também fecharam o dia a verde, com um aumento de 7,40%, assim como as ações ordinárias da operadora de cartões de crédito e débito Cielo (+ 4,76%).
O volume de negócios na Bolsa de Valores de São Paulo superou hoje os 84.481 milhões de reais (12,7 mil milhões de euros), fruto de 8.096.205 operações, ambos os valores muito acima do habitual.
As mudanças na Petrobras, que necessitam agora do aval do Conselho de Administração da empresa, também causaram turbulência no mercado cambial, onde o dólar norte-americano valorizou 1,26% em relação ao real brasileiro e encerrou o dia cotado em 5,454 reais pela compra e 5,455 reais pela venda à taxa de câmbio comercial.
Bolsonaro, capitão da reserva do Exército, instituição que historicamente manteve um perfil estatizante no Brasil, comprometeu-se na campanha eleitoral de 2018 ao liberalismo económico e ao ajuste fiscal, o que lhe valeu o crédito de um mercado financeiro que agora desconfiava de si.
Pressionado pelos camionistas, que ameaçavam com uma nova greve geral como a que paralisou o país em maio de 2018, o chefe de Estado justificou hoje a sua decisão de colocar na presidência da estatal o general aposentado Joaquim Silva e Luna, e exigiu "transparência e previsibilidade" da petrolífera.
"Alguns no mercado financeiro estão muito felizes com a política da Petrobras, que só tem um viés: atender aos interesses próprios de alguns grupos do Brasil, nada mais além disso", denunciou o mandatário.
"O petróleo é nosso ou é de um grupo pequeno aqui no Brasil?", questionou ainda o líder de extrema-direita.
Bolsonaro classificou ainda como "inadmissível" o facto de Roberto Castello Branco, que deixará agora o comando da petrolífera, trabalhar há "11 meses" em teletrabalho devido à pandemia de covid-19.
Se for ratificado para o cargo, Joaquim Silva e Luna será o primeiro presidente militar da Petrobras desde os tempos da ditadura (1964-1985), período que Bolsonaro já defendeu em várias ocasiões.