"A primeira reunião que eu tenho, seis meses depois da queda do Banco Espírito Santo, foi com o tal senhor Vítor Fernandes, que foi indicado agora para presidente [do conselho de administração] do Banco de Fomento. Eu gostaria de dizer que o comportamento que esse senhor teve comigo e com um grande devedor, iria classificar como mercenário, é a palavra que eu tenho para esse senhor", disse o empresário hoje no parlamento.
O empresário da Prebuild, que deve mais de 300 milhões de euros ao Novo Banco, foi hoje ouvido na Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução.
"Alguém que me põe o rótulo de grande devedor e não se senta à mesa para negociar comigo de boa-fé, para mim não passa de um mercenário", reiterou o gestor, em resposta ao deputado único da Iniciativa Liberal João Cotrim de Figueiredo.
João Gama Leão recordou também ao processo da perda das cerâmicas Aleluia para um fundo que não nomeou, mas suspeita estar relacionado com o maior produtor de matéria-prima para aquele segmento industrial.
"Nós na altura fizemos muito ruído no mundo da cerâmica, um mundo muito tradicional, muito fechado. Eu tinha já uma fábrica de cerâmica, que era a Goldcer, que adquiri do grupo Levira, e para mim era estratégico. Tinha uma cerâmica, junto às quatro da Aleluia e fico líder do negócio cerâmico em Portugal, um dos mais reconhecidos a nível mundial", começou por dizer.
O empresário disse ter ficado como "o maior consumidor de matéria-prima" do setor, em que havia "um grupo que detinha o monopólio das matérias-primas em Portugal".
"Esse grupo que tinha as matérias-primas teria que falar comigo para ter negócios. E essa posição de líder no mundo da cerâmica, como é óbvio, trouxe-me alguns inimigos", referiu, acrescentando que quando a cerâmica Aleluia foi reestruturada despediu "a administração toda" algo que também gerou "uma série de inimigos".
"Esse grupo de matéria-prima foi adquirido por um fundo, que eu não consigo precisar qual é", prosseguiu João Gama Leão, acabando por dizer que o Novo Banco fez uma "manobra" para "servir esse fundo" quando o grupo empresarial ficou fora do controlo do empresário.
Segundo o líder da Prebuild, que disse não ter toda a certeza sobre o que referia, "esse fundo ficou com a maior produção de matéria-prima para cerâmicas em Portugal, e ficou com o maior grupo cerâmico português".
"Acho que o destino do meu grupo se deve a essa vontade de alguém. Porque se as cerâmicas não pertencem ao Novo Banco, se não ganharam dinheiro com as cerâmicas, então serviram o interesse desse fundo e não do Novo Banco", concluiu.