"O teletrabalho está em vias de mudar totalmente a organização das administrações. Em todo o lado há discussões sobre o diálogo social europeu. Os sindicatos europeus para as administrações estão a trabalhar neste assunto", disse à Lusa Amélie de Montchalin, que se encontra em Lisboa para participar na reunião informal dos ministros da Administração Pública, no âmbito da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia.
A ministra francesa que assumiu no ano passado a pasta da administração pública admitiu esperar que o diálogo com os sindicatos europeus sobre o futuro do trabalho, em particular o teletrabalho, seja "bem-sucedido".
"Não vamos dizer que tudo vai acontecer exatamente da mesma forma na Bulgária e em Portugal, mas existem princípios comuns para a proteção dos funcionários públicos em termos de proteção social, o modelo social que devemos proteger", acrescentou.
A governante avançou que na reunião de hoje serão discutidos três temas: um programa de mobilidade para funcionários públicos entre Estados-membros, a transformação digital pública e a avaliação da ação pública.
Quanto ao primeiro tema -- o Programa de Intercâmbio de Liderança, proposto por Portugal -- Amélie de Montchalin explicou que a ideia é que arranque em 2022, com Portugal, França, Espanha, Eslovénia e Bélgica.
"Nós, França, queremos muito e parece-nos essencial que este seja um programa que dure, que seja ambicioso, que se alargue e que também permita esta formação. Eu tenho interesse em que pessoas dos meus serviços digitais venham ver o que Portugal está a fazer, e vice-versa. Teremos o maior prazer em acolher as pessoas portuguesas que gostariam de ver o que estamos a fazer em 'Open Data' e é uma forma de acelerar a transformação, que é muito mais útil do que enviar uns aos outros relatórios", afirmou a governante.
Relativamente à transformação digital pública, a ministra destacou o trabalho da Coligação de Vontades, um grupo de países que inclui França, Portugal, Holanda, Alemanha e outros, com o objetivo de partilha de experiências.
"Um terceiro assunto é a abertura e a avaliação da ação pública. Como podemos dar aos cidadãos a capacidade de ver que somos eficazes?", explicou a governante.
Amélie de Montchalin sublinhou que todos os ministros desta área, que se encontram pela primeira vez em sete anos, têm assuntos em comum para discutir, destacando, além da reorganização da forma de trabalho, a formação e recrutamento dos funcionários públicos e a atratividade da função pública.
Antes da reunião informal, a ministra francesa visitou a Loja do Cidadão das Laranjeiras, em Lisboa, para perceber como funciona o modelo português.
"Há muito a aprender com o que vocês [Portugal] já vêm a fazer há vinte anos, porque temos, em França, um programa chamado França Serviços, cuja ambição inicial é muito parecida com o que vocês têm nos vossos espaços [Loja do Cidadão]", apontou.
Em França, disse, existem 1.300 espaços semelhantes a Lojas do Cidadão, embora apenas com serviços públicos, e a ambição é chegar aos 2.000 até 2022.
"É um programa que incentivo muito, porque é tanto de simplificação, como de humanização", realçou, adiantando que a meta é ter este tipo de serviços 100% online também até 2022.
No entanto, a ministra ressalvou que não se deve deixar "todos os homens e mulheres para trás". "Deve haver contacto humano, mas o primeiro contacto hoje é digital e vazio", disse.
A presidência portuguesa da UE termina no fim de junho, dando lugar, no segundo semestre, à Eslovénia.
França assume a presidência em 01 de janeiro de 2022.
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