Banca. Centeno espera que redução de pessoal não tenha a dimensão passada

O governador do Banco de Portugal disse hoje, no parlamento, que há a expectativa de que a redução de trabalhadores na banca não atinja a dimensão das que aconteceram no passado recente, face à melhoria da eficiência dos bancos.

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Lusa
30/06/2021 13:55 ‧ 30/06/2021 por Lusa

Economia

Mário Centeno

 

Em audição na comissão de orçamento e finanças, quando questionado pelo deputado do PCP Duarte Alves sobre despedimentos de trabalhadores bancários, Mário Centeno afirmou que, atualmente, a banca tem "desafios muito grandes, desde a digitalização às baixas taxas de juro (com consequências significativas para a rentabilidade da atividade bancária)", e que entre as formas de os bancos reagirem a esses desafios está a mudanças nas estruturas, incluindo com redução de trabalhadores, para ganharem resiliência.

"Uma parte dessa resposta passa, em algumas instituições, por reduzir a força de trabalho, isso é verdade, é uma tendência global", afirmou o governador do Banco de Portugal.

Centeno disse que, apesar desta difícil situação, para já, a redução de bancários em Portugal tem acontecido através de "processos negociados", com "recurso a acordos de compensação, na generalidade dos casos, acima dos mínimos" exigidos pela lei nas indemnizações por despedimento.

"A banca tem de garantir resiliência, que erros passados não se voltam a cometer e isso inclui também uma lógica de racionalização da sua atividade muito significativa", vincou.

Ainda assim, disse Centeno, após a evolução dos últimos anos, atualmente o indicador 'cost to income' (custo sobre receitas) da banca portuguesa já compara "muito favoravelmente com as congéneres europeias", pelo que a expectativa é de que a redução de trabalhadores que volta agora a acontecer (em 2019, depois de anos de queda no número de funcionários, os bancos voltaram a, em conjunto, aumentar o número de empregados) não seja de dimensão tão grande como a que houve em anos recentes.

"Com esses indicadores, o aumento do capital, a redução do risco, podemos ter a expectativa de que neste momento o contexto de ajustamento não tenha a dimensão do passado e permitirá que o setor financeiro e bancário possa apoiar a economia", afirmou.

Os grandes bancos portugueses vão reduzir milhares de trabalhadores este ano, tendo mesmo BCP e Santander Totta admitido recorrer a despedimentos coletivos.

Esta quarta-feira, o Santander Totta comunicou aos trabalhadores que o plano de reestruturação prevê a saída de 685 pessoas através de reformas antecipadas rescisão e rescisões por mútuo acordo (sem acesso a subsídio de desemprego).

Na nota da administração enviada aos trabalhadores, a que a Lusa teve acesso, o banco diz que espera que as condições possam ser aceites, "evitando-se por esta forma o recurso a qualquer procedimento unilateral", ou seja, despedimentos.

No BCP arrancou em 16 de junho o plano de redução de trabalhadores, com o banco a contactar cada um dos funcionários que quer que saia, por reformas antecipadas ou em rescisões por mútuo acordo (também neste banco quem sair em rescisão por acordo não acede a subsídio de desemprego).

Caso não saiam por acordo o número que considera adequado, o BCP já admitiu em reunião com sindicatos fazer despedimento coletivo, abrangendo "todos os que não aceitem o processo de negociação".

Segundo sindicatos, a intenção do BCP é que saiam até 1.000 trabalhadores.

Também o banco Montepio tem um "plano alargado" de saída de trabalhadores, através de reformas antecipadas e de rescisões de contratos de trabalho (neste banco acedem a subsídio de desemprego, pois obteve do Governo o estatuto de empresa em reestruturação), com o objetivo de reduzir entre 600 a 900 funcionários.

Segundo fonte oficial do Montepio, na primeira fase do programa (no último trimestre de 2020) saíram 235 funcionários.

Em outros bancos, como Novo Banco, Caixa Geral de Depósitos e BPI, continuam também os processos de saídas de trabalhadores, mas para já de forma mais 'suave'.

Segundo vários dirigentes sindicais contactados pela Lusa, este ano ascenderão a milhares as saídas de trabalhadores dos principais bancos. Consideram ainda que os processos estão a ser mais agressivos do que os que decorreram aquando da última crise e a intervenção da 'troika', desde logo porque há grandes bancos a admitir fazer despedimentos, porque as indemnizações propostas são agora mais baixas e até porque não é igual despedir 1.000 trabalhadores num total de 8.000 ou no total de 6.000.

Segundo as séries longas do Banco de Portugal, entre 2009 e 2019, os bancos que operam em Portugal reduziram quase 13 mil trabalhadores. Já em 2020, apenas nos cinco principais bancos que operam em Portugal (CGD, BCP, Novo Banco, Santander Totta, BPI), foram cortados 1.200 postos de trabalho.

A redução de estruturas (saída de trabalhadores e fecho de agências) é comum a toda a banca europeia. Segundo analistas, os bancos têm alicerçado os lucros na redução de custos.

Leia Também: Centeno reitera: Retirar medidas exige "abordagem cautelosa e vigilante"

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