"Onde é que ficou o direito de Portugal a reerguer-se enquanto economia? Alguém faz uma pequena ideia do que é que a nossa concorrência enquanto destino turístico está já a fazer nas redes sociais, à conta da vergonha que se está a passar nos nossos aeroportos?", questionou Pedro Costa Ferreira, em declarações à agência Lusa.
Em causa está a greve convocada pelo Sindicato dos Técnicos de Handling de Aeroportos (STHA), como protesto pela "situação de instabilidade insustentável, no que concerne ao pagamento pontual dos salários e outras componentes pecuniárias" que os trabalhadores da Groundforce enfrentam desde fevereiro de 2021, que já levou ao cancelamento de centenas de voos, sobretudo no aeroporto de Lisboa.
O responsável da APAVT reconheceu as razões dos trabalhadores da Groundforce, uma vez que se trata de reivindicar o pagamento de salários, "o mais básico do direito do trabalhador", mas considerou que se chegou "ao grau zero do respeito", "da razoabilidade", "do bom senso" e "do equilíbrio".
"A verdade é que se construiu a partir desse direito, desse facto e dessa razão uma tempestade perfeita: uma tutela governamental que não soube antecipar e resolver esse problema, em primeiro lugar, um empresário com uma atitude, no mínimo, completamente irresponsável, em segundo lugar, e um sindicato que, na boa tradição portuguesa, rapidamente se arvorou apenas portador da bandeira do caos", apontou Pedro Costa Ferreira.
O presidente da APAVT lembrou que, depois de um ano e meio de pandemia e dos seus efeitos no setor do turismo, um dos mais afetados, as empresas estão neste momento a tentar "reerguer-se" e a "aproveitar as únicas oportunidades de um verão que não será melhor do que o do ano passado".
"Onde é que ficam estas empresas e, concomitantemente, estes trabalhadores depois desta desgraça?", questionou.
Pedro Costa Ferreira questionou, ainda, "onde está o direito dos trabalhadores do turismo a receberem também os seus ordenados", os direitos dos portugueses que querem viajar para o exterior e, por fim, "onde é que fica a resposta da saúde pública".
"Na altura em que estamos a falar, um português para entrar num restaurante só não tem de apresentar a urina da manhã, mas no aeroporto é possível estar-se num espaço fechado ao colo uns dos outros durante horas a fio. Isso já não é um problema para a saúde pública em Portugal, o que nós achamos extraordinário", argumentou.
Relativamente aos voos marcados através de uma agência de viagens associada da APAVT, o responsável disse que os contactos no sentido de reagendar ou reembolsar os clientes já estão a ser feitos.
"O problema é nós começarmos a dialogar com as companhias aéreas para elas nos reembolsarem do dinheiro que nós já pagámos e que agora não foram voados", disse Pedro Costa Ferreira, lamentando "o modo como as companhias aéreas, calmamente e sem qualquer problema, não respeitam o direito ao reembolso das agências de viagens e dos clientes".
A paralisação vai prolongar-se pelos dias 18 e 31 de julho, 01 e 02 de agosto, o que levou a ANA a alertar para constrangimentos nos aeroportos nacionais, cancelamentos e atrasos nos voos assistidos pela Groundforce, nos aeroportos de Lisboa, Porto, Faro, Funchal e Porto Santo.
Além desta greve, desde o dia 15 de julho que os trabalhadores da Groundforce estão também a cumprir uma greve às horas extraordinárias, que se prolonga até às 24:00 do dia 31 de outubro de 2021.
A Groundforce é detida em 50,1% pela Pasogal e em 49,9% pelo grupo TAP, que, em 2020, passou a ser detido em 72,5% pelo Estado português.
Leia Também: Lisboa. Passageiros com voos cancelados queixam-se de falta de informação