"Esperamos uma redução do défice orçamental no segundo trimestre", adiantou o economista-chefe do banco Montepio, Rui Bernardes Serra.
No primeiro trimestre, quando ocorreu o confinamento geral devido à pandemia de covid-19, o défice situou-se em 5,7% do Produto Interno Bruto (PIB), atingindo o valor de 2.813,1 milhões de euros.
Segundo explicou o economista-chefe do Montepio, é esperada agora uma melhoria do saldo orçamental devido à redução da despesa pública "que esteve empolada no primeiro trimestre pelas medidas de apoio às famílias e empresas, em resultado do confinamento no início do ano" e também "em resultado da subida das receitas, decorrente da recuperação da atividade económica, especialmente do consumo privado, com impacto na arrecadação de receitas em sede de IVA".
Rui Bernardes Serra estima igualmente uma redução do défice orçamental no segundo trimestre "em termos de média móvel de quatro trimestres, em resultado, nomeadamente, de ser excluído da janela temporal o forte agravamento do défice observado no segundo trimestre de 2020, aquando do primeiro confinamento".
Segundo referiu, a previsão anual do departamento de estudos do Montepio é de um défice de 4% do PIB para o conjunto do ano, mais otimista que os 4,5% estimados pelo Ministério das Finanças.
Por sua vez, a economista-chefe do BPI, Paula Gonçalves Carvalho, diz que, apesar da unidade de estudos económicos e financeiros do banco não avançar previsões trimestrais, "a informação em contabilidade pública divulgada para o período de abril a junho confirma a perspetiva para o ano, de redução ligeira do défice público".
"O saldo trimestral agravou-se de acordo com o que é habitualmente o comportamento sazonal; melhorou bastante face ao período homólogo, refletindo sobretudo a melhoria da receita pública derivada da recuperação da atividade económica, enquanto a despesa se manteve elevada", acrescentou a economista.
Quanto à previsão anual, Paula Gonçalves Carvalho indica que a estimativa da unidade de estudos do banco foi melhorada, de 4,9% para 4,8% do PIB, "em linha com a revisão de cenário para a atividade em julho".
Já para o economista e professor da Universidade do Minho João Cerejeira, "é difícil" prever qual o comportamento do défice no segundo trimestre, embora admita um maior otimismo em relação à atividade económica.
"Tenho muita dificuldade em antecipar o comportamento do défice porque há uma série de aumentos de despesa por parte do Estado que ainda se mantêm no segundo trimestre que têm a ver com o acréscimo de despesa na área da saúde, na educação, algumas atualizações salariais dos funcionários públicos e apoios às empresas", disse João Cerejeira.
O professor da Universidade do Minho referiu ainda ter dúvidas sobre o impacto das receitas fiscais devido ao diferimento de impostos e ao impacto na receita do 'lay-off'.
Além do défice, o INE publica também na quinta-feira a taxa de poupança registada no segundo trimestre, para a qual ambos os economistas preveem também uma redução.
"O consumo privado terá crescido a um ritmo superior ao do rendimento disponível das famílias, com o consumo a recuperar das restrições resultantes do confinamento no início do ano", explica Rui Bernardes Serra.
Em termos de "média móvel de quatro trimestres" o economista-chefe do Montepio antecipa "uma redução da taxa de poupança também decorrente de ser excluído da janela temporal o registo do segundo trimestre de 2020 (aquando do primeiro confinamento), quando a taxa de poupança atingiu 22,3%, um máximo histórico da atual série".
"Em termos médios anuais, depois de uma taxa média de poupança de 12,8% em 2020 (7,1% em 2019), prevemos uma redução para 10,5% em 2021", acrescentou Rui Bernardes Serra.
Também Paula Carvalho refere que é de prever que a taxa de poupança trimestral tenha caído, "refletindo maior parcela do rendimento canalizada para consumo (em vez de poupança) nesse período".
O INE divulga na quinta-feira o défice orçamental do segundo trimestre de 2021 e a segunda notificação do procedimento dos défices excessivos de 2020.
No primeiro trimestre de 2021, o saldo das Administrações Públicas atingiu o valor negativo de 2.813,1 milhões de euros (5,7% do PIB), o que compara com um défice de 1,2% no período homólogo, segundo a informação divulgada pelo INE em junho.
Leia Também: OE2021: "Ficámos perplexos" com não alteração dos mapas orçamentais