"Viemos dizer, várias vezes, que o que estávamos a disponibilizar às famílias e às empresas era um escudo protetor e não uma bomba relógio que estava para explodir. E acho que isso foi um papel notável por parte do sistema financeiro de proteção do tecido empresarial", disse o presidente executivo do BCP, Miguel Maya, na Money Conference, um evento organizado pela Global Media numa unidade hoteleira de Lisboa, que junta os principais protagonistas dos bancos portugueses.
Também presente no evento esteve o presidente executivo da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Paulo Macedo, que "em termos macro" não pensa que nas moratórias "há um problema", muito menos "um problema que afete o capital dos bancos".
"Para sabermos os níveis de incumprimento que temos, nesta primeira fase, designadamente nas empresas, vamos precisar de seis meses ou mais. Os primeiros dados são bastante positivos: temos níveis de incumprimento de 2%, 4%. São baixos", salientou.
Pelo Novo Banco, o presidente executivo, António Ramalho, destacou que todo o setor está "a ter um reflexo positivo sobre a proteção que as moratórias deram".
"São as provas de que a banca, num determinado momento histórico, foi capaz de ser um elemento de solução e não um elemento de problema", assinalou.
O presidente do Novo Banco relevou ainda a componente emocional do apoio, já que, na sua ótica, "houve sobretudo a capacidade de permitir aos empresários que o quiseram terem tempo para se dedicar aos seus problemas específicos, que eram muitos, e não ao problema do serviço da dívida ou do serviço da dívida acrescido de amortizações".
Já o administrador do BPI Francisco Barbeira preferiu destacar "outras coisas que a banca fez" durante o período pandémico, que "não se limitou às moratórias".
Para o responsável do banco detido pelo espanhol CaixaBank, foi possível "reduzir e suspender alguns preçários ou algumas condições", bem como se mantiveram abertas as agências, algo que "deu muita confiança às populações".
No encerramento da conferência, o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, alertou que "alguns indicadores de qualidade de ativos deterioraram-se" durante a crise pandémica, "nomeadamente para o crédito em moratória".
"O rácio de NPL [non-performing loans, crédito malparado] bruto nos créditos em moratória aumentou 2,9 pontos percentuais para 8,3% face a junho de 2020. O rácio de empréstimos reestruturados aumentou também, 2,8 pontos percentuais, para 9,2%", referiu o governador do banco central.
Já o peso dos empréstimos para os quais se observou um aumento significativo do risco de crédito, "aumentou 12,1 pontos percentuais para 27,3%".
"Tudo isto quer dizer o quê? Que a banca fez exatamente aquilo que lhe foi pedido. Olhou para as suas carteiras de crédito, avaliou, valorizou e agiu em conformidade na identificação das dificuldades. E elas estão aqui. Elas são contidas, mas estão presentes no balanço dos bancos", sustentou.
Estes valores "refletem o desafio que foi colocado à economia portuguesa e ao sistema bancário durante este período e com o qual vamos ter de lidar", afirmou Mário Centeno.
Porém, "no conjunto do crédito, a situação melhorou porque a atividade de recuperação de créditos foi bem sucedida neste período pandémico", ressalvou o governador.
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