As restrições impostas em março de 2020, incluindo quarentena centralizada de até 21 dias para quem chega à China, interromperam o turismo de compras, mas aceleraram as vendas domésticas, beneficiando as marcas estabelecidas no país.
"A pandemia acabou por acelerar as vendas domésticas, com um aumento de 50% face a 2020", disse à agência Lusa Wu Bin, o diretor da marca na China, à margem de um evento de lançamento da coleção outono -- inverno.
O evento decorreu na loja principal Abyss & Habidecor na China, situada num centro comercial de luxo na área central de Guomao, o distrito financeiro da capital chinesa que sedia várias multinacionais.
O país asiático é o maior mercado do mundo para as marcas de luxo. Antes da pandemia da covid-19, a China era também o maior emissor de turistas. As duas realidades confundem-se: os cerca de 170 milhões de chineses que viajaram para o exterior, em 2019, representaram mais de um terço de todas as vendas globais de bens de luxo, segundo analistas.
A Abyss & Habidecor abriu a sua primeira loja na China em 2005. Hoje, soma 40 lojas no país, que passou a ser o seu quinto maior mercado. A suíte do China World Summit, um dos mais emblemáticos hotéis da capital chinesa, usa apenas artigos da marca, ilustrando a penetração única da empresa portuguesa no mercado chinês.
"Há algumas marcas [portuguesas] que estão a seguir caminho e a tentar entrar, mas, desta forma, tão gritante, com uma presença tão forte, e pelas próprias mãos, não existe mais nenhuma", descreveu João Falardo, Delegado da AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal) em Pequim, à agência Lusa.
A gerente de vendas encarregada da distribuição no mercado chinês, Yulia Yan, frisou a "crescente importância" do comércio eletrónico para as vendas da empresa portuguesa na China.
A China é há oito anos consecutivos o maior mercado do mundo em vendas 'online', segundo o Ministério do Comércio chinês. O comércio eletrónico corresponde a 24,9% do setor retalhista do país.
De acordo com dados oficiais, em 2020, o volume total de transações em vendas 'online' na China atingiu 9,8 biliões de yuan (1,3 biliões de euros), mais de metade do conjunto mundial de vendas pela Internet.
Isto suscitou a ascensão dos influenciadores digitais, que estão a reescrever as regras da publicidade e gestão de marca no país.
Seis celebridades 'online' chinesas, alguns com quase dois milhões de seguidores nas redes sociais do país, participaram do lançamento da nova coleção da Abyss & Habidecor.
"Os órgãos de imprensa tradicionais continuam a ter o seu espaço", notou Wu Bin. "Mas, para chegar aos clientes os influenciadores digitais são agora cruciais".
As trocas comerciais entre a China e Portugal aumentaram 4,82% em 2020, em relação ao ano anterior, segundo dados das alfândegas chinesas. Pequim importou mais 19,6%, ou o equivalente a 2,3 mil milhões de euros, face a 2019.
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