"Não me lembro, não tenho memória de ter havido uma subida tão grande, que tem a ver com toda a situação de imprevisibilidade que resulta da guerra da Ucrânia", disse António Comprido aos jornalistas, que é secretário-geral da Apetro há mais de 20 anos.
O responsável, que falava à margem da conferência "A guerra na Europa e o choque energético", promovida pelo jornal ECO, em Lisboa, sublinhou que não se trata de escassez de produtos no mercado mas sim do "impacto psicológico que uma guerra tem", que não se consegue controlar.
"Os preços dispararam completamente, a gasolina e o gasóleo. Os números que eu vi, a média dos primeiros quatro dias da semana, apontavam para um crescimento na ordem dos 14% no gasóleo e gasolina cerca de 8% e, inevitavelmente, isso vai ter impacto nos preços ao consumidor na próxima semana", acrescentou.
António Comprido realçou que Portugal não tem capacidade de intervenção na fixação dos preços dos combustíveis, pelo que a subida dos preços nos mercados internacionais "vai ter inevitavelmente de se refletir" no preço praticado nos postos de abastecimento.
"Todos nós compreendemos que é muito difícil as pessoas, empresas, indústrias suportarem este nível de preços e isso tem de se combater com medidas, sejam elas de caráter fiscal, sejam outras, algumas das quais, aliás, já estão em vigor, mas outras, com certeza, já estarão a ser consideradas [pelo Governo]", apontou António Comprido, que ouviu o secretário de Estado da Energia, João Galamba, afirmar, durante a conferência, que o Governo estava a analisar um reforço dos apoios.
Numa altura em que João Galamba ouvia as declarações do secretário-geral da Apetro aos jornalistas, António Comprido lembrou que o estudo que levou à elaboração da lei que permite uma intervenção das margens dos comercializadores de combustíveis foi baseado em números publicados pela ENSE -- Entidade Nacional para o Sector Energético, que davam conta de margens de 30 cêntimos por litro.
"Por acaso, ontem olhei para o 'site' da ENSE e a margem do gasóleo estava a 3 cêntimos por litro, portanto eu pergunto se agora também vamos a correr fazer qualquer coisa para proteger as margens dos comercializadores", ironizou o secretário-geral, apontando que o referido estudo "está mal feito" e que "a publicação daqueles valores só está a causar confusão às pessoas".
Por seu turno, o secretário de Estado da Energia, que falou em seguida aos jornalistas, defendeu que o facto de as margens dos comercializadores se terem reduzido significa que a lei aprovada "teve efeito".
"Só mostra que o mercado se ajustou e que a lei que aprovámos teve mesmo o efeito que pretendíamos: dissuasor", destacou o governante.
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