"Temos que acelerar o preenchimento das nossas reservas", sublinhou hoje o ministro da Economia e Finanças francês, Bruno Le Maire, na abertura de uma conferência em Paris sobre a autonomia energética da UE, na qual não abordou diretamente a delicada questão do embargo anunciado na terça-feira pelos Estados Unidos às importações de petróleo e gás russos.
O responsável defendeu que "a resposta apropriada ao choque energético" causado pela invasão da Ucrânia pela Rússia é a "independência" da França e da Europa.
Le Maire admitiu que tal não será alcançado em algumas semanas, mas que será necessário passar por uma série de etapas, através do "acompanhamento" das empresas e consumidores mais frágeis, e através de uma "adaptação do modelo económico".
Sublinhou que a crise energética é comparável "em intensidade e em brutalidade ao choque do petróleo de 1973" e insistiu que a resposta dos poderes públicos não pode ser a mesma porque o apoio massivo à procura então decidido e o aumento das taxas de juros levou a uma escalada inflacionária e desaceleração económica, o que ficou conhecido como "estagflação".
No curto prazo, defendeu que as fontes de abastecimento da Europa devem ser "diversificadas" e que isso requer novas infraestruturas. Por isso, congratulou-se com o facto de a Alemanha ter acabado de anunciar a construção do que será o seu primeiro terminal de regaseificação.
Le Maire anunciou ainda que seu o país vai trabalhar para tornar os quatro terminais que tem "o mais operacionais possível". Dependendo dos seus serviços, essas melhorias podem permitir que 10% a 15% a mais de navios cheguem com gás natural liquefeito (GNL).
A médio prazo, afirmou, as soluções têm que vir da "adaptação dos nossos modos de vida", por exemplo, reduzindo a temperatura dos sistemas de aquecimento em um grau, o que permitiria uma economia de energia de 8%.
Defendeu igualmente uma "reforma do mercado energético" para dissociar os preços da eletricidade dos preços do gás, o que considera "uma aberração económica e ambiental".
O ministro francês insistiu que o sistema europeu de tarifário da eletricidade, que na prática o torna dependente do preço do gás, "é absurdo e deve mudar".
Mostrou-se ainda esperançoso de que a Comissão Europeia, que até agora tem sido muito reticente, "proponha ajustes, mesmo que sejam temporários".
No longo prazo, salientou que a transição energética deve ser acelerada, o que no caso da França resultará na construção de novos reatores nucleares (seis já foram anunciados, com opções para outros oito), na implantação de energias renováveis ou na aposta no hidrogénio gerado com fontes "verdes".
Além disso, indicou que pretende direcionar toda a receita tributária obtida dos hidrocarbonetos para energias verdes e descarbonizadas, "para a independência energética".
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