"Nunca pedimos nada que fosse ilegal. Os trabalhadores tinham três anos sem aumentos. Já tinham tido 10 anteriormente, por força dos cortes do Orçamento de Estado a partir de 2010 e, portanto, tinham uma perda substancial nos seus ganhos", afirmou, em declarações à Lusa, o dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Marinha Mercante, Agências de Viagens, Transitários e Pesca (SIMAMEVIP), Clarimundo Baptista.
Segundo o dirigente sindical, o acordo alcançado, esta segunda-feira, com a administração da empresa, que põe fim a três anos de negociações, prevê um aumento salarial "na ordem dos 13%".
"Estava em causa um aumento considerável para satisfazer as necessidades de quem trabalha", sublinhou.
Desde dezembro que os trabalhadores da Atlânticoline estavam em greve, mas foi com a eleição de um novo vogal para a administração da empresa, na passada quinta-feira, que foi possível chegar a acordo.
O dirigente sindical destacou a intervenção no processo negocial do presidente do Governo Regional (PSD/CDS-PP/PPM), José Manuel Bolieiro, que considerou "essencial para desbloquear esta situação".
Clarimundo Baptista revelou que durante uma semana houve uma "negociação séria" e com "transparência", alegando que "foi fácil dialogar", uma vez que ambas as partes estabeleceram metas.
"O sindicato cedeu a algumas das suas exigências e a empresa veio ao encontro da posição do sindicato", afirmou
O novo vogal da empresa, Francisco Bettencourt, realçou também que houve abertura de ambas as partes nas negociações.
"Quando remam todos para o mesmo lado, chega-se a um acordo", frisou, em declarações à Lusa.
Segundo Francisco Bettencourt, foi possível chegar a acordo "em algumas matérias que eram importantes para o sindicato", mas "ficou o compromisso entre as partes" de se voltarem a sentar à mesa das negociações "brevemente" para discutir outras matérias.
"Falta ajustar mais o acordo empresa [AE] à atividade. Temos uma atividade que é muito específica, num horário específico, e o AE estava feito para uma altura em que a atividade era menor e, portanto, urge ajustar estas matérias às novas condições da atividade da empresa, até pelo serviço público que presta", explicou.
O administrador adiantou ainda que "as tabelas salariais ficaram definidas para três anos, independentemente de poder haver acertos futuros nas outras carreiras que não foram sinalizadas nesta fase".
"É importante, até porque temos uma empresa para gerir, que haja um acordo de médio prazo. Isso foi alcançado e congratulo-me com essa parte. O sindicato foi sensível a isso", salientou.
Questionado sobre o impacto financeiro da greve, que decorria desde dezembro, Francisco Bettencourt admitiu que houve prejuízos, mas disse que o levantamento não estava feito.
Segundo o administrador, a operação da Atlânticoline já retomou a normalidade e desde a passada quinta-feira, dia em que tomou posse, que não houve cancelamentos de viagens, numa "prova de boa-fé" do sindicato.
A Atlânticoline, que assegura o transporte marítimo de passageiros e viaturas, durante todo o ano, entre as ilhas do Triângulo (São Jorge, Pico e Faial), movimenta anualmente mais de meio milhão de pessoas.
Segundo dados revelados pela empresa, a greve provocou o cancelamento de 26% das viagens em janeiro e de 15,3% em fevereiro.
O presidente da administração da Atlânticoline, Carlos Faias, deixou a empresa no final de 2021 e, no final de fevereiro, o administrador Luís Paulo Morais, que estava a assumir a presidência provisória, cessou funções, a seu pedido, ficando apenas em funções César Cruz, vogal não executivo.
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