A Alemanha é o país europeu que mais energia importa da Rússia. Em troca de gás, petróleo e carvão, Berlim paga pelo menos 50 milhões de euros por dia a Moscovo, com os preços a continuarem a subir.
A guerra na Ucrânia já fez cair o gasoduto Nord Stream 2, entre a Alemanha e a Rússia, uma das primeiras medidas tomadas como resposta à invasão de Moscovo. Agora, e apesar do gás russo continuar para já a fluir normalmente, Berlim teme uma paragem que gele as casas no próximo inverno.
"A Alemanha tem tanta dificuldade em sancionar o gás russo precisamente porque tem poucas opções alternativas. Isso acontece do nada, é o resultado de décadas de política falhada", sublinhou à Lusa Marcel Dirsus.
Para o politólogo e investigador não residente no ISPK -- Instituto de Política de Segurança da Universidade de Kiel, para reduzir a dependência da energia russa, a Alemanha deve "diversificar imediatamente o seu abastecimento custe o que custar".
De acordo com as contas do vice-chanceler alemão, Robert Habeck, partilhadas na rádio pública DLF, em 19 de março, prescindir da energia russa pode traduzir-se numa perda de 3% a 5% do PIB alemão.
O também ministro da Economia e do Clima disse, no mesmo dia, que a prioridade é garantir suprimentos de energia suficientes que possam durar todo o próximo inverno, compensando o gás, petróleo e carvão provenientes da Rússia.
Nesse sentido, no passado fim de semana, Habeck visitou os Emirados Árabes Unidos e o Qatar para procurar alternativas ao gás russo, e aproximar-se de uma economia energética sustentável que possa evitar futuras dependências.
Jörg Kukies, conselheiro económico de Olaf Scholz, admitiu ao Financial Times que "construir terminais e fechar contratos independentes da Rússia" está no topo da lista.
Por agora, e desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, os preços do gás têm aumentado acima dos 100 euros/MWh, assim como os preços da eletricidade.
Thekla von Bülow, analista do setor da energia na "Aurora Energy Research", admite que, apesar das tentativas da Alemanha para se distanciar da energia russa, uma "independência estrutural" não poderá ser alcançada a "curto prazo", apontando uma meta de cinco anos para acontecer.
A consultora admite que a Alemanha poderá ser capaz de superar o próximo inverno sem o gás russo, mas apenas com medidas "substanciais e dispendiosas" do lado da oferta e da procura.
Do lado da oferta passa por encontrar fontes alternativas que podem incluir a maximização das importações de Gás Natural Liquefeito e o aumento das importações e da produção na Noruega, norte de África e Reino Unido.
Do lado da procura, Thekla von Bülow aponta a extensão da produção nuclear e a partir do carvão, ainda que improvável na Alemanha, e medidas mais controversas como a limitação da procura industrial e a redução significativa da procura doméstica.
Além da construção de dois terminais de gás natural liquefeito, que deverão estar prontos até 2026, a Alemanha deverá, na opinião do analista, aumentar mais rapidamente as capacidades renováveis através de processos mais rápidos de licenciamento.
"Potenciais incentivos para reduzir o consumo de gás na indústria, por exemplo, recorrendo ao hidrogénio ou bombas de calor", assim como nos agregados familiares, são medidas, a médio prazo, apontadas por Bülow para mitigar o uso do gás proveniente da Rússia.
O analista da "Aurora Energy Research" avança a possibilidade de criar um subsídio fixo para a indústria e famílias com rendimentos mais baixos. Uma redução fiscal baseada na energia "não conseguiria um incentivo para reduzir a procura", defende.
Segundo o Banco Mundial, a Alemanha importa quase 60% do seu consumo total de energia. Metade das importações alemãs de gás e carvão vêm da Rússia, que também fornece um terço das importações de petróleo do país.
Leia Também: Armas nucleares? Peskov admite uso em caso de "ameaça existencial"