O Governo anunciou a atribuição de um pagamento extraordinário no valor de 125 euros a cada cidadão não pensionista com rendimento até 2.700 euros brutos mensais, mas há quem defenda que este 'cheque' deveria ser ajustado aos vários níveis de rendimentos, em vez de ser um valor fixo.
"Sem dúvida que este apoio deveria ter acompanhado os rendimentos das pessoas em vez de ter sido um valor universal e fixo", disse o fiscalista Jaime Esteves, em declarações à CNN Portugal, sublinhando que "há uma malha grande e heterogénea" entre os que vão receber este montante, com "diferenças e necessidades muito diversas".
O fiscalista revela ainda que este cheque "vai ter fins completamente diferentes", porque se alguns vão utilizar os 125 euros para comprar bens de primeira necessidade, outros conseguem poupá-lo ou gastar tudo de uma vez.
A propósito, na terça-feira, a presidente do Banco Alimentar contra a Fome alertou que o apoio de 125 euros para quem receba até 2.700 euros pode não ser o mais ajustado e propôs pedagogia para ajudar as famílias a gerirem o dinheiro.
Em declarações à agência Lusa, Isabel Jonet começou por referir que perante a situação das famílias que passam mais necessidades, "todas as ajudas são muito bem-vindas" e que o pagamento de 125 euros a todas as pessoas que ganhem mensalmente até 2.700 euros brutos "vem compensar um pouco os acréscimos dos produtos básicos", como a alimentação, o gás, a luz ou o valor da renda.
Sublinhou, no entanto, que se trata de uma ajuda única, paga apenas no mês de outubro, quando a perspetiva futura é de que o valor da inflação não diminuía e que, por isso, as famílias continuem a ter necessidades.
Admitiu que é uma medida "muito boa neste momento", mas demonstrou dúvidas sobre se é ou não a mais adequada em termos estruturais, já que "é um alivio imediato".
"Quando se atribui uma ajuda deste tipo, única, é importante fazer uma pedagogia e explicar às pessoas que não podem ir gastar estas verbas todas de uma só vez até porque isso pode ter um efeito que é contrário ao nível da inflação", defendeu Isabel Jonet, sustentando que um aumento de procura de determinados produtos pode levar ao aumento dos respetivos preços.
A presidente do BA defendeu, por isso, que é preciso ter o "cuidado" de explicar às pessoas que esta ajuda serve para compensar o aumento dos preços, mas que não se perspetiva que essa realidade se altere no curto prazo.
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