"Desde o princípio deste mês de novembro que estamos a cumprir a 100% o serviço de transporte público rodoviário estabelecido pela Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML). Quando iniciámos a atividade (em junho), também tínhamos tudo preparado para fazer o serviço contratado", afirmou, em entrevista à agência Lusa, o responsável do grupo Alsa em Portugal e administrador da Alsa Todi, Juan Gomez Pina.
"Mas, devido às alterações de percursos e ao aumento de serviços que nos foram pedidos, tivemos de ir contratar mais motoristas fora (em Cabo Verde) porque não havia essa mão-de-obra disponível em Portugal", acrescentou o administrador da Alsa Todi, nas instalações da empresa no concelho da Moita, no distrito de Setúbal.
Segundo Juan Gomez Pina, ao longo dos primeiros seis meses de atividade no lote 4 da Carris Metropolitana, que abrange os concelhos de Alcochete, Barreiro, Montijo, Moita, Palmela e Setúbal, a Alsa Todi foi confrontada com a necessidade de fazer "55% de alterações à operação que estava prevista inicialmente, quando o normal em termos internacionais é que as alterações sejam de apenas 10 a 15% da operação inicial".
"No mês de junho precisávamos de 260 motoristas para fazer o serviço diário e hoje precisamos de 297, mas, neste momento, já temos 360 motoristas. E agora já podemos começar de novo a dar férias, que estiveram suspensas no último mês, devido às necessidades de serviço", sublinhou o responsável da Alsa Todi, reiterando a ideia de que as dificuldades de operação nos primeiros seis meses resultaram das alterações pedidas pela TML e da impossibilidade de contratar mais motoristas de autocarros em Portugal.
Confrontado com as críticas dos utentes da Alsa Todi, que reconhecem uma melhoria significativa do serviço nas últimas semanas, mas que garantem haver ainda atrasos muito significativos e supressão de carreiras, Juan Gomez Pina, foi perentório na resposta.
"Neste momento não há carreiras suprimidas, mas é claro que podem sempre acontecer alguns atrasos pontuais, porque às vezes há acidentes ou problemas com o trânsito. Para atravessar a ponte 25 de Abril, por exemplo, por vezes também demora muito mais tempo do que é normal. E tudo isso acaba por provocar alguns atrasos inesperados", disse.
Juan Gomez Pina admite, no entanto, que alguns utilizadores falem de supressões de carreiras baseando-se em horários desatualizados.
"Temos 2.800 paragens de autocarro no Lote 4 da Carris Metropolitana de Lisboa. Não é fácil substituir todos os horários rapidamente. É por isso que recomendamos aos nossos utentes que consultem os horários na página oficial da Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML)", disse Juan Gomez Pina, alertando também para novos "ajustes de percursos e horários em função da procura", que terão lugar a partir de janeiro do próximo ano.
No passado dia 12 de novembro, o primeiro secretário da Área Metropolitana de Lisboa (AML) avaliou como "péssimo" o desempenho da transportadora nos primeiros meses de atividade e prometeu tudo fazer para responsabilizar a Alsa Todi, mas Juan Gomez Pina garante que a empresa se irá defender no momento próprio e não se coibiu de antecipar alguns argumentos.
"Nós vamos defender-nos dessas acusações porque os contratos são para cumprir reciprocamente. Muitas das modificações (de percursos e de horários) foram-nos pedidas para a semana seguinte. E o contrato também estabelece um período de 30 a 60 dias para fazermos essas modificações", disse.
"Claro que entendo que, devido às circunstâncias e às necessidades dos passageiros, sejam necessárias alterações, mas, para fazer essas alterações, tivemos de contratar mais motoristas, que não havia em Portugal. Por isso, quando formos confrontados com eventuais sanções da TML, faremos as nossas alegações para nos defendermos", acrescentou.
No plano laboral, a Alsa Todi está confrontada com um pré-aviso de greve, para dia 30 de novembro, da plataforma sindical constituída por vários sindicatos do setor dos transportes.
Segundo Fernando Fidalgo, da Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações (FECTRANS), "o maior problema da empresa é o excesso de trabalho que tem sido exigido aos trabalhadores" devido à falta de pessoal.
"Esta empresa iniciou a atividade com um défice de mão-de-obra razoável e teve de distribuir o trabalho pelos ativos que tinha na altura. E só agora é que contratou 60 motoristas cabo-verdianos", disse Fernando Fidalgo.
"No dia 28 de novembro, os sindicatos vão analisar a situação, ver quais são as medidas que a empresa tomou, as que não tomou e porque não as tomou, porque nós também temos a consciência de que há aqui um conjunto de situações que não dependem só da administração da Alsa Todi, mas da boa vontade da Câmara Municipal de Setúbal", disse.
Fernando Fidalgo apontou, entre outros exemplos, a inexistência de uma casa de banho para os funcionários da empresa no Interface de Transportes em Setúbal, situação que "terá de ser resolvida pelo município sadino", a par de outros problemas nas instalações da empresa na Várzea e na Varzinha, também em Setúbal.
O administrador da Alsa Todi, Juan Gomez Pina, garante, no entanto, que a empresa já tem motoristas suficientes para evitar o excesso de trabalho e que está a tentar resolver todos os outros problemas.
"Esperamos que os sindicatos levantem o pré-aviso de greve para 30 de novembro. E esperamos também que, a partir de agora, comecemos a ganhar a confiança das pessoas, para que se sintam seguras e satisfeitas por viajarem connosco", disse.
"A Alsa Todi tem uma frota de autocarros novos, com algumas facilidades e acesso à rede wi-fi", sublinhou Juan Gomez Pina.
Leia Também: Alsa Todi está a melhorar, mas ainda há muitas reclamações em Setúbal