Das contas (avultadas) às justificações: O que está no 'palco' da JMJ

Só o altar-palco custa mais de quatro milhões de euros (sem IVA), mas há mais parcelas a considerar no 'bolo' do evento. 

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Beatriz Vasconcelos com Lusa
26/01/2023 11:38 ‧ 26/01/2023 por Beatriz Vasconcelos com Lusa

Economia

JMJ

O plano já é conhecido há muito, mas só agora que as contas se vão tornando públicas é que se conhece a verdadeira dimensão - e o impacto - das contas da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). A divulgação do montante do altar-palco, superior a quatro milhões de euros, fez estalar a polémica esta semana, mas há mais parcelas a considerar no 'bolo' do evento. 

As despesas a cargo da Câmara de Lisboa

O município de Lisboa tem um investimento estimado de 35 milhões de euros na preparação e realização dos eventos da JMJ, sendo a maior verba aplicada no Parque Urbano Tejo-Trancão, divulgou a autarquia.

A maior fatia do investimento (21,5 milhões de euros) destina-se ao Parque Urbano Tejo-Trancão, local que acolherá o evento principal da JMJ

  • Nesta parcela de terreno destaca-se a reabilitação do aterro sanitário de Beirolas (7,1 milhões de euros);
  • A montagem de um altar-palco (4,24 milhões de euros), que tem gerado muita polémica;
  • A construção de uma ponte pedonal sobre o Rio Trancão (4,2 milhões de euros) e de infraestruturas;
  • Equipamentos de saneamento, abastecimento de água e eletricidade (3,3 milhões de euros).
  • No valor de investimento apurado para este local estão também contemplados os estudos, projetos e fiscalização (1,6 milhões de euros) e ensaios e fundações (1,06 milhões de euros).

CML não quer que "existam derrapagens no valor" estimado

Além do Parque Tejo, a Câmara Municipal de Lisboa tem previsto um investimento de cerca de 13,5 milhões de euros para montar recintos em outras partes da cidade, nomeadamente no Parque Eduardo VII, Terreiro do Paço, Alameda D. Afonso Henriques e Parque da Belavista.

Nestes locais está previsto investimento na colocação de palcos, iluminação, som, ecrãs, casas de banho, baias, geradores, sinalética, segurança, recolha de resíduos e brigadas de limpeza. A Câmara Municipal de Lisboa anunciou ainda que irá proceder ao reforço de equipamentos nas áreas da higiene urbana, Regimento de Sapadores Bombeiros, Polícia Municipal e Proteção Civil.

O Parque Eduardo VII foi o local escolhido para a realização e três eventos da JMJ: a missa de abertura (com cerca de 200 mil pessoas), o acolhimento ao Papa Francisco (500 mil pessoas) e a Via-Sacra (700 mil pessoas).

Neste local será montado um palco (ainda sem valor de custo previsto) que será alvo de um concurso internacional, segundo adiantou o vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, acrescentando que esse, ao contrário do que será construído no Parque Tejo-Trancão, será retirado no final do evento.

A Câmara de Lisboa estima que as obras previstas neste plano de investimento estejam concluídas até junho e manifesta vontade de que "não existam derrapagens no valor" estimado.  

"Não se pode olhar para este evento apenas de uma perspetiva dos custos": As justificações

A autarquia lisboeta diz esperar que se desloquem à capital cerca de 1,5 milhões de pessoas para participar na JMJ. "Para a dimensão de Lisboa receber um evento desta dimensão é um grande desafio. Será uma oportunidade de dar notoriedade e visibilidade a Portugal", sublinhou o vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa. 

Tentando fazer uma projeção sobre o impacto da JMJ, Filipe Anacoreta Correia defendeu que "não se pode olhar para este evento apenas de uma perspetiva dos custos", apontando para o retorno económico.

"Se nós temos aqui um milhão e meio de pessoas que vão permanecer nesta região, nesta zona, durante seis dias, a experiência indica-nos que um grande número vem uma semana antes e vai uma semana depois. Agora imaginem que em termos médios estes 1,5 milhões, durante estes seis ou 15 dias, gastam em média 200 euros na sua estadia. Se assim for, o retorno para a economia é dos 200 a 300 milhões de euros", apontou.

A propósito da polémica em torno do alar-palco, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse que o altar-palco que será construído para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) servirá para "outro tipo de eventos" no futuro.

Após ter falado com o presidente da CML, Carlos Moedas, o chefe de Estado referiu que "Lisboa tenciona (...) utilizar a estrutura para outras ideias que podem ser mais interessantes" e acrescentou: "Como, por exemplo, um polo de lazer verde, mas outro tipo de estrutura mais estável para outro tipo de eventos. Isso explica não apenas a feição ou o objetivo imediato, mas o duradouro investimento que ali é feito".

Ora, por seu turno, Carlos Moedas disse, na terça-feira, que sabia que a construção do altar-palco para a JMJ ia ficar muito cara, indicando que será realizada com as especificações da Igreja. "Queremos que esse palco, essa infraestrutura, fique para o futuro e que muitas dessas infraestruturas fiquem para o futuro. Eu sabia que isto ia ser muito caro, que era um investimento muito grande para a cidade", indicou Moedas.

JMJ vai custar mais de 80 milhões de euros aos contribuintes

Os vereadores do PS, PCP e BE na Câmara de Lisboa já criticaram a falta de transparência da liderança PSD/CDS-PP nos investimentos do município para a JMJ, inclusive o palco-altar contratado por 4,24 milhões de euros.

Consideram que há "uma falta absoluta de transparência" e alertam que esse montante "ultrapassa os limites legais de exceção" definidos para a organização do evento.

De acordo com o jornal ECO, a JMJ vai custar mais de 80 milhões de euros aos contribuintes, sendo que estas despesas serão repartidas entre o Governo e as autarquias de Lisboa e de Loures.

A Jornada Mundial da Juventude é o maior encontro de jovens católicos de todo o mundo com o Papa, que acontece a cada dois ou três anos, entre julho e agosto. Lisboa foi a cidade escolhida em 2019 para acolher o encontro de 2022, que transitou para 2023 devido à pandemia de Covid-19, partilhando a organização com o município vizinho de Loures. O evento está marcado para os dias entre 1 a 6 de agosto de 2023.

Leia Também: Altar-palco e não só: Lisboa investe 35 milhões na JMJ (veja as contas)

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