"Não é suficiente anunciar, não suficiente abrir concursos, é preciso que o dinheiro chegue às empresas, porque as empresas tiveram de aplicar os seus recursos financeiros para fazer face a estes aumentos [resultantes da pandemia e da guerra]. Ou seja, hoje é preciso, mais que nunca, que estes recursos que os fundos comunitários disponibilizam ao país cheguem rapidamente às empresas para que possam fazer investimentos", defendeu em declarações à Lusa, Luís Miguel Ribeiro, questionado sobre a situação das empresas do Norte do país.
O dirigente da associação multissetorial, com sede no Porto, considera que, contrariamente à estratégia posta em marcha por outros países - a ocidente, os Estados Unidos da América com a injeção de 370 mil milhões para apoio às empresas e a Oriente a China com 260 mil milhões - Portugal não acautelou devidamente a situação das empresas que hoje se deparam não só com o aumento dos custos de contexto, como também das taxas de juros num setor onde o endividamento é já muito elevado.
"Continuamos muito lentos na utilização dos recursos que temos, nomeadamente PRR [Plano de Recuperação e Resiliência], Portugal 2030 e do que resta do Portugal 2020", declarou, salientando que a capacidade de investimento das empresas é agora menor, porque esses recursos estão a ser utilizados para suportar os aumentos.
De acordo com os dados de Bruxelas, Portugal é o sexto país da UE que já recebeu mais verbas para implementar o seu PRR, num total de 5,14 mil milhões de euros - 4,07 mil milhões de euros em subvenções e 1,07 mil milhões de euros em empréstimos. No que toca à implementação do PRR, Portugal surge em quarto lugar na UE com uma taxa de execução de 17%.
"Se compararmos com aquilo que outros países disponibilizaram às empresas para que pudessem resistir melhor a esses impactos, podia-se ter feito mais. Neste momento, e não desvalorizando a questão da redução do défice, com o excedente que temos em termos orçamentais era importante que reforçássemos os apoios às empresas, mas sobretudo que fossemos menos burocráticos, mais eficazes e mais céleres na aplicação de recursos [financeiros]", declarou.
Apesar de reconhecer que medidas como as linhas de crédito ou o regime de 'lay-off' foram importantes para que as empresas conseguissem ajustar à situação, o dirigente questiona-se se Portugal "vai perder mais esta grande oportunidade".
"Neste momento temos cerca de 10 mil milhões por ano, cerca de mil milhões por mês, temos uma imensidão de recursos, mas o que é que nos adianta termos estes recursos se não formos capazes de aplicar ou se não os aplicarmos da melhor forma", questionou.
Luís Miguel Ribeiro insiste que a disponibilização dos recursos financeiros é essencial para as empresas que se sentem desvalorizadas pelo Governo.
"Quando eu oiço o senhor primeiro-ministro dizer que as empresas têm de pedalar mais, sinceramente ficamos desconfortáveis, até diria triste de não haver um reconhecimento do esforço que as empresas fizeram e estão a fazer durante este período", lamentou.
Para o presidente da AEP, para lá da disponibilização dos fundos comunitários, é necessário que o Governo assuma um compromisso com as empresas nomeadamente ao nível fiscal e da implementação de políticas públicas que estimulem, por um lado, a manutenção dos postos de trabalho e, por outro, sejam fator de atração de recursos humanos.
A contratação de mão-de-obra é uma das maiores preocupações dos empresários, sobre a qual esperam um maior agravamento durante o ano de 2023.
Leia Também: Um ano após guerra na Ucrânia. "Em vários sentidos, russos já perderam"