"A reconstrução da Ucrânia não é um projeto que, por si só, seja bancável. É um país destruído, é um país com as suas infraestruturas produtivas debilitadas e, portanto, um país para poder assumir dívida tem de criar rendimento para a pagar e a Ucrânia vai demorar tempo até repor a sua economia para pagar esse rendimento", argumenta o responsável, em entrevista à agência Lusa, em Lisboa.
Para Ricardo Mourinho Félix, "é necessário que, no período de reconstrução, existam fundos que permitam suportar a Ucrânia desse ponto de vista, sob pena de o país não ter capacidade financeira para assumir dívida que possa pagar de forma credível num prazo razoável".
Desde o início da guerra da Ucrânia, causada pela invasão russa, a UE e os seus Estados-membros concederam 19,7 mil milhões de euros ao país, com grande parte deste montante a ter a forma de assistência macrofinanceira, isto é, de empréstimos concedidos em condições favoráveis.
Recentemente, a UE chegou também a acordo com um empréstimo à Ucrânia a longo prazo em condições preferenciais e condicionado a reformas, no valor de 18 mil milhões de euros, para enfrentar despesas contraídas no contexto da guerra da Rússia contra o país.
"O BEI não financia orçamentos, só financia projetos. A reconstrução da Ucrânia e que tem de começar a ser feita já -- obviamente que, com características distintas daquelas que esperamos que seja no futuro [...] -- exigirá uma grande coordenação à escala global, e, portanto, é importante que haja um instrumento, um fundo, que seja gerido ao nível europeu no âmbito das instituições europeias e onde o BEI possa ser um parceiro que implementa esse fundo utilizando as subvenções e os fundos que venham a estar disponíveis", defende Ricardo Mourinho Félix, nesta entrevista à Lusa.
Antigo secretário de Estado Adjunto e das Finanças, Ricardo Mourinho Félix foi designado, em outubro de 2020, vice-presidente do BEI.
Fazendo um balanço destes meses no cargo, Ricardo Mourinho Félix fala numa "experiência muito enriquecedora", na qual já se deparou com desafios com que "ninguém esperava", como a guerra da Ucrânia e a crise inflacionista e energética.
A ofensiva militar lançada em 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 7,9 milhões para países europeus --, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Neste momento, 17,7 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia -- foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 7.031 civis mortos e 11.327 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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