"A nossa emissão de 650 mil milhões de dólares [603,5 mil milhões de euros] em SDR foi uma tábua de salvação para muitos países africanos, mas reconhecemos que o mecanismo de distribuição é intrinsecamente injusto, porque beneficia os países mais ricos, que não precisam dessas verbas, e por isso criámos mecanismos que permitem que esses países nos 'devolvam' essas verbas para podermos emprestá-las a taxas muito baixas e com maturidades muito longas aos países que mais delas precisam", disse Georgieva.
Falando na abertura do 11.º Fórum Fiscal Africano, que decorre até quarta-feira em formato virtual entre Bruxelas e Washington, a líder do FMI anunciou que "a França, que tinha comprometido 20% dos seus SDR, aumentou essa percentagem para 30%", o que faz com que dos quase 20 mil milhões de dólares (18,5 mil milhões de euros) que recebeu, vá canalizar mais de 6 mil milhões de dólares (5,5 mil milhões de euros) para os países mais desfavorecidos, entre os quais se contam muitos africanos.
Durante a mesa redonda de alto nível sobre "Mitigação dos Impactos dos Choques - A necessidade de redes de segurança social mais fortes", a responsável do FMI salientou ainda que a contribuição da França foi aumentada porque "os mecanismos que estão a ser implementados para ajudar os países mais desfavorecidos estão a mostrar resultados, e portanto os países acreditam na eficácia da sua ajuda".
Georgieva usou depois a figura da "Bela Adormecida" para explicar que estas verbas, também chamadas de "novo capital", são como a personagem que para acordar precisava de um beijo e, continuando a analogia, disse que o beijo foi o Fundo de Resiliência e Sustentabilidade (RST), criado precisamente, na sequência da pandemia de covid-19, para ajudar os países a enfrentarem choques externos e a construírem resiliência.
"O beijo de que a 'Bela Adormecida' precisava veio do RST, que já tem 40 mil milhões de dólares [37 mil milhões de euros] e já canalizou verbas para o Ruanda, o primeiro país a beneficiar deste novo mecanismo", salientou Kristalina Georgieva.
O FMI, acrescentou, "trabalha para a estabilidade e resiliência, mas nesta fase foi preciso alargar o conceito de resiliência para cobrir não apenas a parte económica, bancária e financeira, mas também para incluir pessoas, através de educação e saúde, e a sociedade, focando-nos na justiça e na inclusão social".
O continente africano é um dos mais afetados pelos sucessivos choques externos, que se agravaram com a pandemia de covid-19 e a invasão da Ucrânia pela Rússia, que fez disparar os preços dos alimentos e da energia, alimentando a inflação para valores históricos, a que se junta as alterações climáticas, que penaliza significativamente estes países.
"O que estamos a ver é uma enorme necessidade de África crescer a 7 ou 10%, é uma oportunidade tremenda para África e para a sua contribuição para a economia mundial, mas cresce apenas a 4%, é muito baixo, por isso precisamos de apoiar estratégias de crescimento através de uma nova abordagem, o que significa mudar para uma economia de muito bom desempenho através da aposta no investimento em capital humano", concluiu a diretora-executiva do FMI.
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