"Se estivermos perante uma ação de propaganda [do Governo], que finja que resolve e não resolve, o caminho há de ser o desenvolvimento da luta dos trabalhadores, ainda com mais força e razões do que aquelas que já existem hoje", disse o líder da Frente Comum, Sebastião Santana, à Lusa.
O primeiro-ministro, António Costa, mostrou disponibilidade na quarta-feira, no parlamento, para rever os salários dos trabalhadores da função pública, referindo que a inflação em 2022 foi superior à que o Governo tinha inicialmente previsto.
Para Sebastião Santana, o anúncio de António Costa mostra que "vale a pena lutar", referindo-se à "grande greve da administração pública" realizada no dia 17 e à manifestação nacional da CGTP, em Lisboa, no dia seguinte, que juntou milhares de trabalhadores.
Estas ações de luta, segundo o líder sindical, fizeram o Governo "perceber aquilo que já toda a gente tinha visto, que é que o aumento do custo de vida está em dimensões incomportáveis e que vai ser preciso rever salários".
"Estamos à espera que na reunião que está agendada para a próxima quarta-feira o Governo meta mãos à obra e que apresente propostas que resolvam os problemas dos trabalhadores, que é tudo o que não tem feito", afirmou Sebastião Santana, lembrando que a Frente Comum não assinou o acordo de outubro com o Governo que definiu aumentos salariais no mínimo em cerca de 52 euros ou 2% para este ano.
Por sua vez, o líder da Federação de Sindicatos da Administração Pública (Fesap), José Abraão, que assinou o acordo para a legislatura com o Governo, disse valorizar o anúncio e esperar "com expectativa" a reunião agendada para dia 29 no Ministério da Presidência, que tem a tutela do setor.
"Valorizamos e saudamos a disponibilidade de o senhor primeiro-ministro para, em negociação, corrigir uma maior inflação face ao que era esperado", tal como estava previsto no acordo, realçou José Abraão.
Também a presidente do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE), Helena Rodrigues, manifestou-se satisfeita com o anúncio do primeiro-ministro, sublinhando que o acordo já previa o compromisso de uma revisão caso a inflação fosse superior.
"São propostas que vemos de bom grado. É natural que haja uma revisão e a nossa expectativa é positiva", disse Helena Rodrigues.
Já sobre o anúncio da ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, sobre a possibilidade de acelerar as progressões na carreira, os sindicalistas aguardam pela proposta em concreto, com Sebastião Santana a considerar que o que foi anunciado pela governante "foi muito dúbio e confuso".
A ministra da Presidência avançou na quarta-feira à Lusa que o Governo vai propor aos sindicatos progressões mais rápidas para os funcionários públicos para "corrigir os efeitos" do congelamento das carreiras, medida semelhante à prevista para os professores, e que deverá abranger 349 mil trabalhadores, cerca de 65%.
"O objetivo é centrarmo-nos no universo dos trabalhadores da Administração Pública que tiveram um congelamento de cerca de nove anos e quatro meses e encontrar, para este universo de trabalhadores no seu todo, uma solução de aceleração da sua progressão", disse Mariana Vieira da Silva.
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