Em entrevista à agência Lusa, o governador do Banco de Portugal (BdP) recordou que a decisão do Conselho de Governadores do Banco Central Europeu (BCE) sobre as taxas de juro na reunião agendada para 04 de maio está em aberto, pois será baseada em dados, mas sublinhou que "gostaria que isso [a estabilização ou a paragem das subidas] acontecesse".
O BCE aumentou o preço do dinheiro desde julho do ano passado em 350 pontos base para 3,50%, com a última subida, de 50 pontos base, anunciada em 16 de março. Nessa altura, a presidente do banco central da zona euro, Christine Lagarde, disse que as próximas decisões sobre taxas de juro dependem dos dados económicos e financeiros, porque aumentou a incerteza com a tensão nos mercados financeiros.
"Os ingredientes que temos para esta decisão são muito favoráveis a uma estabilização do processo de subida de taxas. E, no limite, porque não, a uma paragem do processo de subida de taxas", disse hoje Mário Centeno.
"Eu gostaria que isso acontecesse", referiu, adiantando que, "obviamente, porque é a previsibilidade que estamos a falar há muito tempo, mas que não fosse originada por turbulências no mercado financeiro".
Em relação aos dados que o BCE irá analisar, Centeno lembrou que o banco central sabia que os dados de janeiro e fevereiro iam ser desafiantes, por razão das muitas atualizações de preços automáticas devido ao calendário.
"Mesmo assim, a inflação caiu mais do que aquilo que nós esperávamos em dezembro, quando tínhamos a última previsão", explicou.
Centeno sublinhou que com a atualização das previsões do 'staff' do BCE anunciadas em março, o banco central tem agora um perfil de inflação ao longo do horizonte muito inferior do que tinha em dezembro.
"E esta é a informação mais importante que temos para tomar decisões em maio. É muito importante que esta previsão seja corroborada pelo número [estimativa rápída da inflação na zona euro em março] que vai sair sexta-feira [31 de março], e depois pelo número que vai sair no final de abril em relação à inflação desse mês", disse.
O governador do Banco de Portugal recordou que no radar do BCE estão também as expectativas de evolução de preços registadas e, inquéritos feitos às famílias, aos profissionais e às empresas.
"Por exemplo, as famílias são sempre o agente económico mais pessimista face aos preços no futuro, principalmente quando estamos em processos inflacionistas, mas o último 'survey' que temos, o último inquérito que temos no início deste ano, mostra que as famílias, no médio prazo, reviram muito bem baixa também elas as expectativas de preços", acrescentou.
"Se tudo isto se confirmar e se a situação financeira como nós esperávamos permanecer estável, a última coisa que eu gostaria era que mudássemos a política monetária por turbulência nos setores financeiros", disse.
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