"O crescimento demográfico, a industrialização e a urbanização têm contribuído continuadamente para o aumento significativo da procura de energia à escala global. Uma das consequências deste aumento é a pressão exercida sobre os recursos fósseis tradicionais como o carvão, o gás natural e o petróleo que, para além de finitos, apresentam também custos de extração bastante elevados, contribuindo significativamente para as alterações climáticas globais, já que de acordo com dados da Direção Geral da Ação Climática da União Europeia, os combustíveis fósseis serão responsáveis por mais de 75% das emissões globais de gases de efeito de estufa e por quase 90% de todas as emissões de dióxido de carbono.
Torna-se, portanto, crucial, a redução das emissões de gases com efeito de estufa no sentido de mitigar os graves impactes das alterações climáticas confirmados pela comunidade científica. Para que os objetivos traçados pela União Europeia (UE) se atinjam, nomeadamente o de reduzir as emissões em 55% até 2030, é imperativo diminuir a dependência dos combustíveis fósseis e canalizar cada vez mais o investimento para fontes de energia alternativas que sejam limpas, económicas, fiáveis, acessíveis e sustentáveis.
Cerca de 80% da população mundial reside em países altamente dependentes da importação de combustíveis fósseis, vulnerável e sujeita a instabilidades e crises geopolíticas que podem, com relativa rapidez, abanar as suas fundações. Cumprido o terceiro aniversário da efeméride que deu a conhecer ao mundo “O novo normal” e ainda no rescaldo do cenário de guerra que se vive na Ucrânia, está à vista de todos o impacte produzido por estes dois acontecimentos no descarrilamento sem precedentes dos preços da energia. Permitindo-me a ousadia de contrariar a célebre máxima dos tempos de pandemia, não ficará tudo bem se, em primeiro lugar, não se almejar a que fique tudo diferente, sendo que caberá a todos os decisores, individuais e colectivos, garantir que destas experiências se retiram importantes conclusões e lições para o futuro.
A energia proveniente de fontes renováveis oferece um meio de reduzir a dependência das importações, permitindo às nações diversificar as suas economias e fomentar o crescimento, ao mesmo tempo que se salvaguardam da imprevisibilidade dos preços dos combustíveis fósseis. A Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA) sugere que as energias renováveis poderão, até 2030, suprir 65% das necessidades energéticas mundiais, apresentando também potencial para contribuir com cerca de 90% da descarbonização do sector energético, até 2050. A produção de energia com base em fontes renováveis é, na realidade, a solução mais barata de produção na maior parte do mundo. Segundo dados da mesma agência, o preço das tecnologias renováveis tem descido acentuadamente, com o custo da electricidade produzida a partir da energia solar, por exemplo, a apresentar uma queda de aproximadamente 85% entre 2010 e 2020, e de 56% e 48% para a eólica onshore e offshore, no mesmo período. Embora, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), se preveja que os custos da energia solar e eólica permaneçam, em 2023, mais elevados do que os níveis pré-pandémicos, muito devido à subida geral dos preços das mercadorias e dos fretes marítimos, a expectativa é que a sua competitividade melhore progressivamente face aos aumentos mais acentuados nos preços do gás e do carvão.
Se no que ao cumprimento das metas estabelecidas pela UE o caso a favor das renováveis é claramente vencedor, de um ponto de vista estritamente económico o cenário não é diferente. De acordo com dados da IRENA, a transição para fontes de energia renovável requer investimentos significativamente inferiores em termos de infraestrutura em comparação com a construção de novas centrais nucleares ou a carvão, que exigem elevados custos de capital associado à sua construção, manutenção e operação. Num estudo recente sobre a transição energética e os preços da energia na Europa, o Fundo Monetário Internacional (FMI), avança também que a produção de energia renovável está associada a uma redução significativa dos preços da eletricidade no mercado grossista europeu, verificando-se um impacto médio de 0.6% para cada aumento de 1 ponto percentual na quota de energias renováveis. De acordo com este documento, se a incorporação de fontes renováveis na produção de eletricidade na Europa aumentar da média registada de 14% durante o período de 2014-2021 para 30%, poderá verificar-se uma diminuição no preço da eletricidade no mercado grossista de cerca de 9%, havendo a possibilidade de este valor ascender facilmente aos 20%, caso a incorporação de energia solar e eólica represente 50% do mix energético.
Contudo, um aumento desgovernado da incorporação de renováveis poderá também conduzir a maiores flutuações na produção de eletricidade, resultando em preços grossistas mais elevados. Assim, é da máxima importância para a salubridade do sistema energético que os decisores políticos procurem implementar medidas que promovam a modernização e integração das redes eléctricas em toda a Europa, direcionando o investimento para a redução do congestionamento das linhas de transmissão e introduzindo soluções como o armazenamento para minimizar a volatilidade e maximizar os benefícios associados à transição para um sistema energético mais sustentável."