"Crise do custo de vida" motiva quebra generalizada nos salários reais

O emprego nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) resistiu ao impacto da guerra na Ucrânia, mas a "crise do custo de vida" motivou uma quebra generalizada dos salários reais, segundo um relatório hoje publicado.

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Lusa
11/07/2023 11:50 ‧ 11/07/2023 por Lusa

Economia

OCDE

 

De acordo com o "OCDE Employment Outlook 2023", divulgado hoje por aquela organização, "a recuperação robusta da recessão da covid-19 perdeu força desde 2022", tendo-se instalado "uma crise de custo de vida", com a invasão russa da Ucrânia a contribuir para os níveis de inflação mais altos desde há décadas em vários países.

Ainda assim, a OCDE afirma que o emprego se "manteve firme", enquanto as taxas de desemprego atingiram os níveis mais baixos das últimas décadas e, com poucas exceções, as taxas de inatividade estão abaixo dos níveis pré-pandémicos, incluindo entre os adultos mais velhos.

Apesar da recuperação no crescimento dos salários nominais, o relatório destaca que a "crise do custo de vida" motivou uma quebra dos salários reais "em praticamente todos os países" da OCDE.

"Em muitos países, os lucros aumentaram mais do que os custos do trabalho, dando uma contribuição extraordinariamente grande para as pressões internas sobre os preços e levando a uma queda do rendimento do trabalho [quota do rendimento nacional alocada a salários e outros custos do trabalho]", refere.

Em 2021 e 2022, o relatório aponta que os custos unitários do trabalho caíram, em termos reais, "em 18 dos 29 países para os quais há dados disponíveis", sendo que, entre os restantes, os maiores crescimentos nos custos do trabalho ocorreram em Portugal, no Reino Unido e na Lituânia.

Embora as transferências públicas e os apoios fiscais tenham proporcionado "algum alívio", a OCDE considera que a perda de poder de compra "é particularmente desafiadora para os trabalhadores com baixos rendimentos", que têm menos margem para enfrentar aumentos de preços através de poupanças ou empréstimos e, muitas vezes, lidam com taxas de inflação efetivas mais altas, porque canalizam uma proporção maior dos seus gastos para energia e alimentação.

Considerando haver "poucos sinais de uma espiral preços-salários", a organização sustenta que a subida do salário mínimo e as negociações coletivas "podem ajudar a amortecer perdas no poder de compra".

"Vários instrumentos podem ser ativados para limitar o impacto da inflação sobre os trabalhadores e garantir uma divisão justa dos custos entre governos, empresas e trabalhadores", considera, destacando que "a forma mais direta" de o fazer é "através do aumento dos salários, incluindo o salário mínimo, que está sob controlo do governo".

"Há uma preocupação de que o aumento do salário mínimo contribua para alimentar a inflação. No entanto, o efeito do aumento do salário mínimo sobre o crescimento dos salários agregados é limitado, mesmo tendo em consideração os efeitos de contágio sobre os salários superiores", sustenta a OCDE.

Segundo a organização, se, em média, nos países da OCDE os salários mínimos nacionais nominais acompanharam a inflação, devido a aumentos discricionários ou a mecanismos de indexação, em contraste, os salários negociados através de acordos coletivos têm diminuído em termos reais, devido à reduzida frequência das negociações salariais.

Entre dezembro de 2020 e maio de 2023, os salários mínimos nominais nos países da OCDE aumentaram, em média, 29%, mas a organização prevê que, "no geral, o crescimento dos salários nominais agregados seja de pouco mais de 4% nos países da OCDE em 2023, para depois abrandar para cerca de 3,5% em 2024, enquanto a inflação prevista é de 6,6% em 2023 e 4,3% em 2024".

Na edição deste ano do "OCDE Employment Outlook 2023", a organização dá ainda destaque ao "impacto significativo" que a inteligência artificial (IA) deverá ter no mercado de trabalho, salientando o "nível significativo de incerteza" atualmente existente a este nível e apontando as políticas mais adequadas a adotar.

Até agora, a OCDE considera que "a qualidade do trabalho foi mais impactada do que a quantidade de empregos", referindo haver na literatura atual "poucas evidências de efeitos negativos significativos" da IA no emprego.

Contudo, admite que tal pode ocorrer "porque a adoção da IA ainda é relativamente baixa e/ou porque as empresas, até ao momento, preferem contar com ajustes voluntários da força de trabalho", pelo que "os efeitos negativos da IA no emprego podem levar algum tempo a materializar-se".

De acordo com o relatório, o facto é que a IA "cria novas tarefas e empregos, principalmente para trabalhadores altamente qualificados que possuem as competências certas para trabalhar com IA", e "monitorizar a distribuição da perda e da criação de empregos será importante com vista à inclusão".

[Notícia atualizada às 12h46]

Leia Também: Inflação na OCDE cai para o valor mais baixo desde dezembro de 2021

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