"Diariamente surgem problemas para os agricultores. No concelho de Alijó este está a ser um ano terrível no que toca à viticultura: granizo, ataque de míldio, também alguns focos de ódio e de podridão negra e, depois, temos o corte no benefício. Os agricultores já estavam com as mãos na cabeça por causa de todos estes prejuízos e vem o corte de benefício que é um fator que nos ajuda a diminuir aos custos", afirmou hoje à agência Lusa André Pinto, viticultor de Castedo do Douro.
O conselho interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) fixou em 104 mil o número de pipas (550 litros cada) a beneficiar nesta vindima. O benefício é a quantidade de mosto que cada viticultor pode destinar à produção de vinho do Porto e é também uma importante fonte de rendimento dos produtores durienses.
O valor representa uma diminuição de 12 mil pipas face a 2022 e reflete a crise inflacionista e quebras nas vendas nos principais mercados exportadores.
Entretanto, as previsões apontam para aumento na ordem dos 10%, na colheita da Região Demarcada no Douro, mas a situação não é igual em todo o território.
Castedo do Douro, em Alijó (Vila Real), foi afetado por duas vezes, entre o final de maio e início de junho, pela queda de granizo e chuva intensa que causaram prejuízos numa das principais fontes de rendimento deste território: a vinha.
André Pinto e os pais tomam conta de cerca quatro hectares de vinha, e o agricultor calcula um corte de benefício "na ordem das duas pipas", ou seja, cerca de "dois mil euros", num ano em que "triplicou o custo" dos produtos necessários para os tratamentos.
Preocupado com a quebra no benefício, juntou-se também às muitas vozes durienses que reclamam o aumento do preço pago pelas uvas.
"Se o agricultor conseguisse vender as uvas a um preço mais justo iria tratar melhor, fortalecer as suas vinhas, olhar para a agricultura com outros olhos e não iria haver tantos campos abandonados", defendeu.
Além do mais, apontou, o viticultor do Douro "só sabe o preço da uva" depois da vindima.
Também Carlos Santos disse que este "está a ser um ano muito difícil" e "dispendioso".
"Tivemos granizo duas vezes na mesma aldeia e tivemos um ataque de míldio, nas partes afetadas pelo granizo, muito forte. Cheguei a fazer tratamento de oito em oito dias", afirmou o agricultor, que tem dois hectares de vinha em Castedo.
Na sua opinião, "os produtos estão com preços exagerados". "E eu não consigo perceber porque é que o vinho não consegue acompanhar estas subidas", questionou.
E agora, acrescentou, "este corte de benefício não vem ajudar em nada", salientando que, no seu caso, pode-se traduzir numa "perda de mil euros", o que considera ser "substancial" na hora de fazer face às despesas.
E além disso, frisou, "poucas são as casas que pagam 500 euros" pela pipa de vinho para consumo, considerando que o valor é insuficiente.
Este viticultor referiu que vai mantendo a atividade porque recorre à mão de obra familiar, porque se tivesse que pagar "era insuportável" e "vendia ou abandonava".
Para além da subida dos fatores de produção, como por exemplo fertilizantes, fitofarmacêuticos e combustíveis, António Sousa Pinto, que tem vinha em Santa Marta de Penaguião e Peso da Régua (Vila Real), acrescentou também o custo da mão de obra e os impostos.
Nas suas contas poderá perder "três pipas de benefício", o que considerou "muito significativo" na hora de pagar as contas. As uvas que colhe são para vender a uma produtora de vinho e também para produção própria.
"Reduzindo o benefício automaticamente vão aumentar as pipas para consumo e prevendo-se também um aumento de produção, mesmo que só seja de 10% na globalidade, o preço do vinho de mesa pode baixar", apontou.
O viticultor disse que, nesta zona do Baixo Corgo, o ano agrícola tem corrido bem, que a "vinha está saudável", embora também tenha tido necessidade de reforçar os "tratamentos".
Leia Também: Produtores vitivinícolas de Foz Côa desolados após intempérie