"Um dos principais fatores que influenciam o crescimento mundial é o aumento das taxas de juro na maioria dos principais países desde o início de 2022", escreve a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico) no seu relatório intitulado "Confrontar a inflação e o baixo crescimento".
Há mais de 18 meses que os bancos centrais de todo o mundo estão empenhados em aumentar acentuadamente as taxas de juro para travar a inflação reacendida pela pandemia e pela guerra na Ucrânia.
A taxa de juro de referência do Banco Central Europeu (BCE), por exemplo, está atualmente no nível mais elevado desde 1999, depois de uma nova subida na semana passada.
"Todos podemos constatar que a subida das taxas de juro está a fazer o seu caminho através das nossas economias. É necessário reduzir a inflação, mas é doloroso", admitiu hoje a economista-chefe da OCDE, Clare Lombardelli, numa conferência de imprensa, em Paris.
"O efeito da política monetária restritiva está a tornar-se cada vez mais visível", constata a OCDE, realçando que "a confiança das empresas e dos consumidores está a baixar".
No entanto, espera-se uma ligeira melhoria este ano à escala internacional, com um crescimento de 3%, mais 0,3 pontos do que as anteriores previsões de junho da instituição, mas ainda abaixo dos 3,3% registados em 2022.
Na zona euro, "onde a procura já é moderada", diz a OCDE, o crescimento deverá ser de 0,6% este ano, menos 0,3 pontos do que era esperado em junho, com o peso da Alemanha, que poderá entrar em recessão, e da Itália, cuja previsão foi reduzida em 0,4 pontos, para 0,8%.
No seu conjunto, a zona euro deverá recuperar em 2024, com um crescimento do PIB de 1,1%, "à medida que o impacto negativo da inflação elevada sobre os rendimentos se desvanece", prevê a OCDE.
Longe de apelar a um abrandamento das taxas de juro, a organização internacional escreve no seu relatório trimestral que "a política monetária deve permanecer restritiva até que haja sinais claros" de que as pressões inflacionistas estão a abrandar.
Uma trégua poderá estar no horizonte no próximo ano: a OCDE prevê uma inflação de 4,8% nos países do G20, 3% na zona euro e 2,6% nos Estados Unidos, depois de 6%, 5,5% e 3,8%, respetivamente, previstos para este ano.
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