Governo afasta cenário de "erro de gestão" na paragem da Autoeuropa
O secretário de Estado da Economia recusou hoje classificar como um "erro de gestão" a paragem forçada da Autoeuropa, atribuindo-a antes a uma "nova realidade" de disrupções à qual as empresas terão de "se adaptar".
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Economia Autoeuropa
"Eu não consigo qualificar aquilo que se verifica aqui como um erro de gestão, quando existe uma cheia, em pleno agosto, na Eslovénia que faz parar um componente que nem sequer é fornecido diretamente à Autoeuropa. Portanto, a própria Autoeuropa nem sequer teria condições de aprovisionar esse componente para antecipar essa quebra", afirmou Pedro Cilínio durante uma audição na Comissão de Trabalho, Segurança Social e Inclusão, no parlamento.
O governante foi ouvido juntamente com o secretário de Estado do Trabalho, Miguel Fontes, na sequência de um requerimento apresentado pelo Bloco de Esquerda (BE) para debater a situação dos trabalhadores da Autoeuropa, que regressaram na segunda-feira ao trabalho, ainda que de forma parcial, após terem estado em 'lay-off' devido a uma paragem de produção forçada de quatro semanas por falta de peças.
Para Pedro Cilínio, na base desta paragem estiveram "disrupções nas cadeias de abastecimento causadas por falta de alguns materiais e por fenómenos climáticos, que têm sido cada vez mais frequentes", sendo esta "uma nova realidade à qual o setor vai ter que se adaptar".
Recorrendo à sua experiência passada enquanto "docente de logística e operações", o secretário de Estado destacou que no setor automóvel "todas as unidades têm de ser competitivas", com "sistemas de produção muito otimizados", o que, em última análise, "beneficia os consumidores pelo facto de poderem aceder à aquisição de veículos com melhores características e preços mais vantajosos".
Contudo, disse, esta "filosofia de produção" é adotada pelas empresas deste e de outros setores a nível mundial porque, em condições normais, os respetivos ciclos de produção "funcionam de forma estável e continuada", permitindo que toda a cadeia de abastecimento seja orientada para reduzir o custo de 'stocks' no processo.
"É sempre uma opção de gestão, porque as empresas poderiam optar por modelos de produção diferentes, aumentarem os seus níveis de 'stock', mas isso teria reflexos no custo da produção e também no preço a que os veículos seriam entregues aos consumidores", sustentou o secretário de Estado, salientando que o entendimento do Governo é que "o mercado é que deve regular aquilo que são as práticas de gestão das empresas".
Ainda assim, Pedro Cilínio assegurou que, "desde o primeiro dia em que a situação [de paragem da produção da Autoeuropa] se tornou conhecida, ainda em agosto, o Governo - e, em particular, os ministérios da Economia e do Trabalho - têm atuado junto dos atores do setor como um todo".
"Trabalhámos com a Autoeuropa no sentido de perceber se podíamos ter soluções, no âmbito da indústria nacional, para fornecer e substituir o componente em causa, [...] sendo que viemos, mais tarde, a saber que a Volkswagen encontrou alternativas de fornecimento em dois outros fornecedores que permitiriam retomar a produção", revelou.
Contudo, o secretário de Estado diz que "ficou lançado o desafio de se promover um trabalho mais próximo" com a Autoeuropa e com os fabricantes de componentes no sentido de "aumentar o contributo dos fabricantes de componentes nacionais para a Autoeuropa" e, assim, "preservar o seu funcionamento perante eventuais disrupções futuras".
"Esse trabalho foi iniciado e esperamos que dê frutos, com o desenvolvimento daquilo que nós chamamos um clube de fornecedores da Volkswagen Autoeuropa, que permita capacitar mais fornecedores para poderem fornecer componentes para a Autoeuropa", disse.
Afirmando-se "perfeitamente de acordo com o acréscimo de incorporação nacional não só na Volkswagen, como em todos os setores", Pedro Cilínio notou, contudo, que neste caso (uma vez que o componente em causa não seria fornecido diretamente à Autoeuropa, mas a uma fábrica de motores que, depois, são fornecidos a Portugal), "uma exposição muito maior à Volkswagen teria um efeito muito mais danoso" e "o impacto desta situação teria sido, aí sim, bastante devastador, porque haveria um número muito mais significativo de empresas e trabalhadores afetados".
"Aquilo em que temos de trabalhar é na competitividade da indústria como um todo, o que significa posicionarmos as nossas empresas de componentes nas cadeias de abastecimento, incluindo também na cadeia de abastecimento da Volkswagen e da Autoeuropa", enfatizou.
[Notícia atualizada às 13h24]
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