João Bento falava num encontro com jornalistas, que decorreu na sede dos Correios de Portugal, em Lisboa.
Questionado sobre a expectativa de que a proposta de novos indicadores de qualidade de serviço de prestação postal possam ser aprovados ainda por este Governo, João Bento disse não haver razão para "não o ser".
Agora, "não podem ser estes indicadores", rematou.
Em 26 de outubro, a Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom) aprovou um projeto de proposta de novos indicadores de qualidade do serviço da prestação do serviço postal universal dos CTT, que passam a oito em substituição dos anteriores 24.
"A proposta que foi feita não faz nenhum sentido, ela está completamente desalinhada da lei postal e do contrato de concessão e, ao contrário do que é comunicado pela Anacom, não há sequer uma proposta de simplificação", prosseguiu.
"O que há é um conjunto de indicadores que condensam os mesmos indicadores que já tínhamos, aumenta a complexidade e em alguns casos agrava o nível de exigência", apontou.
João Bento considerou que isso "viola de forma explícita quer o espírito da lei, quer aquilo que foi feito" na lei como no contrato de concessão.
Recordou que o Governo "entendeu que havia" que "fazer algo diferente" face ao que estava previsto, "estabeleceu que os níveis de exigência" deveriam traduzir-se em "linha com o que se passa a Europa e o contrato explicita mesmo que os indicadores devem corresponder à média daquilo que se observa nos países da União Europeia".
O CEO dos CTT sublinhou ainda que a proposta da Anacom acontece numa altura em que o presidente da entidade reguladora está cessante - terminou o mandato em agosto - e que a economista Sandra Maximiano foi convidada para o substituir, a qual já terá sido ouvida na CRESAP - Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública.
"Está em processo de transição, o mandato do presidente da Anacom terminou em agosto, ele está a ser substituído, é já conhecida a sua substituta" e "fazer isto nesta altura é estranho, isto deveria ter sido feito no ano de transição [do contrato] que era 2022, não foi feito, é feito numa altura que está para sair e é feito numa forma que também não é bonita", acrescentou.
"A lei diz é que os indicadores de qualidade são estabelecidos por portaria do Governo sobre proposta da Anacom e ouvidas as entidades representantes dos consumidores, portanto, o que o regulador fez foi em vez de ouvir as entidades representantes e o próprio operador" uma consulta pública "condicionando" o que se irá passar a seguir, apontou João Bento.
João Bento admitiu a possibilidade do Governo ainda aprovar os indicadores de qualidade: "Aquilo que sabemos de ontem [quinta-feira] [...] é que afinal não vamos ter já um governo de gestão, a demissão do primeiro-ministro só será aceite quando aprovado o Orçamento do Estado para minimizar o período" em que haverá um governo de gestão até às eleições de 10 de março.
Portanto, "o facto do Governo não ser já um governo de gestão e o que nós temos para tratar serem assuntos de normal desenvolvimento de contrato faz-nos crer que pode não haver grande perturbação", disse.
Agora tudo depende dos desenvolvimentos, nomeadamente se mudar o ministro que tem a pasta, João Galamba.
João Bento referiu ainda que o relacionamento com o presidente da Anacom cessante, João Cadete de Matos, foi "fácil e fluida", ainda que em desacordo na "apreciação do seu papel enquanto regulador".
[Notícia atualizada às 14h45]
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