No dia em que cumprem uma greve de 24 horas, algumas dezenas de trabalhadores, alguns deles vestidos com as roupas de trabalho, juntaram-se ao início da tarde em frente ao ministério liderado por Fernando Medina, em Lisboa.
"É urgente e necessário o aumento do salário" e "precariedade não, estabilidade sim" foram algumas das palavras de ordem entoadas por aqueles trabalhadores, alguns dos quais tinham já passado a manhã concentrados junto ao silo da Silopor na Trafaria, em Almada.
Em liquidação desde 2001 por decisão da Comissão Europeia, mas a dar lucro desde 2016, a Silopor pertence ao setor empresarial do Estado e é gerida por uma comissão liquidatária cujo mandato foi prolongado até junho de 2025, a mesma altura em que acaba o contrato de concessão do Porto de Lisboa à empresa.
O que irá acontecer depois daquela data, os trabalhadores não sabem, segundo explicou à Lusa a dirigente do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP), Célia Lopes.
"A empresa continua a ser responsável por mais de 50% de armazenagem do cereal no nosso país e é, obviamente, uma empresa estratégica até na regulação de preços, quer para cereais para a produção alimentar, quer para seres humanos e animais", apontou a dirigente sindical, que espera que na próxima reunião com a comissão liquidatária, apontada para início de fevereiro, haja evoluções no sentido dos interesses dos trabalhadores.
Em concreto, os profissionais da empresa reivindicam a integração nos quadros, com contrato sem termo, de todos os trabalhadores das empresas de trabalho temporário, um aumento salarial de 150 euros para todos e a negociação das carreiras profissionais e revisão do acordo de empresa, conforme expresso numa resolução aprovada pelos manifestantes e entregue no Ministério das Finanças.
O Governo autorizou as empresas do setor empresarial do Estado a fazer aumentos da massa salarial até 5%, incluindo eventuais acréscimos dos salários dos trabalhadores por via de promoções automáticas, sendo que, na Silopor, cerca de 40% dos trabalhadores estão nestas condições, devido ao descongelamento das carreiras, o que, para o sindicato, significa que "são os trabalhadores que não vão ter aumentos que irão pagar as promoções dos colegas".
Adicionalmente, segundo o sindicato, 30% dos trabalhadores da empresa têm vínculos precários.
"O próprio Governo aprovou recentemente a Agenda do Trabalho Digno, como é que numa empresa do setor empresarial do Estado há trabalhadores com contratos de trabalho temporário desde 2019? A Silopor não foi notificada para integrar estes trabalhadores no quadro. O que é que correu mal para que nem o Ministério do Trabalho, nem o das Finanças percebessem que, numa empresa detida integralmente pelo Estado, as regras não estavam a ser cumpridas?, questionou Célia Lopes.
Para Manuel Santos, operador de produção na Silopor há 14 anos e a ganhar 1.014 euros brutos por mês, o sentimento é de indignação, porque os salários não chegam para fazer face ao aumento do custo de vida e a proposta da comissão liquidatária de aumentos na ordem dos 50 euros fica muito abaixo das pretensões dos trabalhadores.
Manuel Santos realçou ainda que os trabalhadores tiveram as carreiras congeladas durante 12 anos, devido ao resgate financeiro pela 'troika' (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e com o Fundo Monetário Internacional).
"Alguns deles até já estão perto da idade da reforma e não vão atingir o topo da carreira e o que queremos é que estas situações sejam resolvidas, principalmente a questão dos trabalhadores precários, que têm contratos que os deixam numa situação complicada em termos familiares, pessoais, sem perspetivas de futuro", destacou.
A ação de protesto contou com a presença do deputado Bruno Dias, do PCP, que dedicou umas palavras de solidariedade aos trabalhadores, destacando o seu "trabalho estratégico para o país".
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