Para o analista da ActivTRades Mário Martins a descida das taxas de juro, que já se está a verificar, vai contribuir para a redução dos lucros, a que se pode somar efeitos de uma situação económica e geopolítica mais negativa.
"A situação internacional está a ficar complicada e pode gerar diminuição do crescimento", afirmou Mário Martins, acrescentando que mesmo sem um entorno mais difícil o facto de os bancos estarem a gerar menos crédito tem impacto nos resultados.
Também Vítor Madeira, da corretora XTB, disse que a descida das taxas terá impacto, mas considerou que os "bancos têm feito um esforço para fixar as taxas de juro" pelo que deverá haver menores reduções de lucros do que existiria sem esse trabalho prévio.
Para o economista António Nogueira Leite, os bancos "vão continuar a ter resultados bastante bons", já que o setor já se mostra também preocupado em abrandar a subida dos juros dos depósitos, não sendo previsível que as imparidades aumentem (neste caso, considera que o setor mais preocupante são as pequenas e médias empresas).
Contudo, avisa o professor universitário - antigo vice-presidente da CGD, ex-secretário de Estado de Governo PS de António Guterres e que tem aconselhado o PSD -, este é o cenário de previsão central, mas o mundo está muito incerto nos planos geopolítico e económico.
Quanto a eventuais novas medidas sobre a banca, seja uma taxa extraordinária ou uso dos lucros para ajudar quem tenha crédito à habitação, os analistas mostraram-se contra por considerarem que penaliza o setor, afasta os investidores não sendo soluções para os problemas, sobretudo para a crise da habitação.
Nogueira Leite considerou que esse tipo de medidas "afasta os investidores da banca" e que rapidamente se transformam em definitivas medidas temporárias e, sobre a habitação, disse que se deve resolver esse "gravíssimo problema" com "instrumentos do mercado de habitação e imobiliário".
Vítor Madeira disse que a banca já tem tomado medidas para "mitigar o seu risco e ajudar as famílias a pagar os créditos", sobretudo com reestruturações de empréstimos.
Mário Martins considera que os subsídios diretos "não são a solução" e com um mercado imobiliário sobreaquecido é preciso cuidado pois há medidas que iriam inflacionar ainda mais os preços.
Sobre os lucros recorde dos bancos em 2023, dizem os especialistas de forma unânime que devem-se, sobretudo, ao aumento das taxas de juro.
Apesar de taxas de juro mais altas terem significado menos novo crédito, isso foi mais do que compensado por margens de juro líquidas elevadas, pois, por um lado, os bancos beneficiam do aumento das taxas de juro no crédito (desde logo em 'stock' existente, caso de crédito à habitação a taxa variável) e, por outro lado, passaram com atraso esse aumento dos juros para a remuneração dos depósitos, beneficiando assim a margem financeira (a principal receita de um banco).
Numa análise aos bancos europeus, a agência de 'rating' DBRS falou mesmo num "tremendo aumento" dos lucros.
Mário Martins afirmou à Lusa que também ajudou o facto de no passado os bancos terem feito uma "redução severa de custos", sobretudo com a saída de milhares de trabalhadores, e Nogueira Leite acrescentou que a melhoria da qualidade do crédito também contribuiu, pois, os bancos deixaram de ter de canalizar resultados para as imparidades.
Por seu lado, o economista Nuno Rico, da associação de defesa do consumidor Deco, considerou que as comissões também foram importantes para os lucros e que, depois de durante anos os bancos as terem justificado por viverem com juros baixos, estas não têm descido e alguma redução do valor arrecadado se deve, sobretudo, às proibições impostas pelo parlamento.
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