1.º Maio. Sociedades democráticas não podem "prescindir dos sindicatos"

 A presidente interina do Conselho Económico e Social (CES), Sara Falcão Casaca, acredita que as "sociedades democráticas não podem prescindir dos sindicatos", reconhecendo que as estruturas enfrentam desafios para manter o seu peso junto dos trabalhadores.

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Lusa
30/04/2024 17:42 ‧ 30/04/2024 por Lusa

Economia

1.º Maio

Em entrevista à Lusa, a propósito dos 50 anos da primeira celebração do 1.º de Maio em Portugal, Sara Falcão Casaca lembrou que "já há várias décadas, e fundamentalmente desde os anos 80, que se discute, desde logo a nível europeu, a questão de uma maior fragilização por parte dos sindicatos".

Para a líder do CES, esta questão esteve muito relacionada com "os efeitos da globalização económica e financeira e a deslocalização de setores produtivos e de várias empresas para outros países onde os custos laborais e a proteção laboral eram inferiores", algo que considerou "muito desafiante para os sindicatos e para o poder sindical".

Sara Falcão Casaca lembrou depois a "ofensiva liberal", com "ataques deliberados relativamente aos sindicatos, como aconteceu durante os tempos de Margaret Thatcher, por exemplo".

Por outro lado, indicou, é preciso olhar para as "profundas alterações, do ponto de vista produtivo e do ponto de vista estrutural, do emprego, que mais uma vez são muito desafiantes para os sindicatos", lembrando que a sua força esteve relacionada com "a concentração fabril e com o peso do setor industrial" que favoreceu a "consciência de classe".

No entanto, o desenvolvimento do setor dos serviços trouxe muitos desafios, destacou.

"É um setor muito diversificado, onde temos diversas profissões, mais qualificadas, onde a componente intelectual do trabalho também está mais presente, mas sobretudo ocorre essa fragmentação dos interesses dos trabalhadores", explicou, apontando "o aumento, por exemplo, das subcontratações, do 'outsourcing', de empresas intermediárias e, agora, das plataformas digitais".

"Há todo um contexto que dificulta a mobilização e a organização sindical", referiu, destacando ainda "uma força de trabalho muito mais heterogénea e com valores e atitudes e aspirações", como a população jovem, "que se afastam bastante daquilo que eram as atitudes e os valores dos trabalhadores dos setores mais tradicionais".

Além disso, o peso das mulheres na força de trabalho, cada vez maior, também é um desafio para as estruturas sindicais, salientou, apontando um "maior desapego das mulheres relativamente aos sindicatos". 

Para a presidente interina do CES, os sindicatos "foram pilares muito importantes da consagração de direitos laborais elementares nas sociedades modernas" bem como da construção do Estado-Providência e da proteção social.

"Têm sido um ator social muito importante e as sociedades democráticas não podem prescindir dos sindicatos", defendeu.

Sara Falcão Casaca realçou ainda o papel da concertação social, que junta empresas, sindicatos e governos.

"Toda a gente concordará que temos o desafio dos baixos salários por vencer", referiu, apontando ainda a promoção da igualdade de género e os desafios das migrações.

"Portanto, há aí um campo enorme de trabalho no contexto da negociação coletiva", rematou.

Leia Também: PCP propõe semana de 35 horas para todos os trabalhadores

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