A concentração teve início no Campo Pequeno e de seguida seguiu, por volta das 15h30, para a porta da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), ao ritmo de frases de ordem como "Negociação, sim. Imposição, não", "É urgente e necessário o aumento dos salários", "Para as misericórdias há milhões, para os trabalhadores só tostões", ou "Manuel Lemos [presidente da UMP] escuta, os trabalhadores estão em luta".
À manifestação de hoje soma-se um dia de greve destes trabalhadores e, em declarações à Lusa, a dirigente sindical Elisabete Gonçalves, responsável pelo setor social na Federação Nacional de Sindicatos de Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Sul e Regiões Autónomas, disse que é possível fazer um balanço "muito positivo".
"Nós temos muitos trabalhadores a fazer greve, muitos de norte a sul do país. Há várias instituições, essencialmente na área da infância, encerradas. (...) Houve uma grande adesão à greve", apontou, salientando que em áreas como dos idosos ou do apoio às pessoas sem-abrigo os serviços funcionaram por causa da necessidade de garantir serviços mínimos.
Elisabete Gonçalves salientou que as várias dezenas de trabalhadores presentes na manifestação estavam ali para demonstrar o seu descontentamento perante a UMP, que, em termos negociais, tem uma posição "lamentável".
"É adiar, adiar. Vão para os jornais dizer que estão disponíveis para ajudar, mas quando chega a parte dos trabalhadores esquecem-se completamente daquilo que é a sua missão", criticou.
O processo negocial entre as partes tem estado a ser feito junto da Direção-geral do Emprego e das Relações do Trabalho (DGERT) e a mais recente proposta de aumentos salariais, para 2024, "tinha aumentos salariais de dois euros e de três euros", o que levou o sindicato a recusar, explicou a sindicalista.
"Um trabalhador ao fim de cinco anos passava com cinco euros para outro nível. Recusámos, dissemos que aquilo era vergonhoso e quando foi para apresentar uma nova proposta, adiaram a reunião", adiantou Elisabete Gonçalves, acrescentando que não há, para já, nova data e que o sindicato vai insistir para a marcação de nova reunião.
Segundo a responsável, o setor social faz-se sobretudo com trabalhadores a ganhar o ordenado mínimo nacional e, mesmo nos casos dos técnicos superiores, "recebem valores inferiores ao trabalhador da função pública e fazem a mesma coisa".
"É vergonhoso", classificou.
Elisabete Gonçalves explicou que as reivindicações dos trabalhadores passam por atualizações salariais, que sejam "introduzidos na esfera do Estado", melhores condições de trabalho e "ambientes de trabalho menos tóxicos".
A manifestação de hoje contou com o apoio do Partido Comunista e do Bloco de Esquerda, na presença de Alma Rivera e Mariana Mortágua, respetivamente, que chamaram a atenção para a "recusa" por parte da UMP em fazer atualizações salariais.
"As misericórdias têm dinheiro do Estado, de acordos de cooperação, para fazer esses aumentos e não os fazem e portanto temos centenas de mulheres que estão a garantir os trabalhos nos lares e nas creches e trabalham há 30 ou 40 anos sempre a ganhar o salário mínimo nacional", apontou a deputada Mariana Mortágua, para quem o Estado "tem sempre de reforçar esses acordos de cooperação".
Alma Rivera, por seu lado, salientou o trabalho destes trabalhadores durante a pandemia de covid-19, apontando que "são essenciais, mas não têm o reconhecimento adequado" e que "há muito tempo lutam para que exista negociação para elevar os seus salários e que têm encontrado uma porta fechada".
"O que estamos a fazer hoje é dar apoio para que haja efetivamente negociação e que estes trabalhadores vejam reconhecidos melhores condições de trabalho", defendeu.
No final, os trabalhadores presentes aprovaram uma resolução, por unanimidade, que posteriormente entregaram na sede da UMP, pedindo valorização salarial, condições de trabalho adequadas, cumprimento dos direitos laborais, igualdade de carreiras, fim da discriminação e efetiva negociação coletiva.
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[Notícia atualizada às 19h28]
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