"O BCP procura sempre criar condições para melhorar as empresas, desde que estas tenham viabilidade económica", afirmou Miguel Maya, em resposta aos jornalistas, após a apresentação dos resultados da instituição financeira.
Apesar de não querer comentar diretamente o caso da Inapa, ressalvando que não pode divulgar informação sobre os seus clientes, o presidente executivo reiterou que a viabilidade económica das empresas é "um princípio" para a intervenção do banco.
"[...] Se a Inapa se enquadrava dentro destas empresas com viabilidade económica, o banco estaria disponível para fazer um esforço", apontou, notando que esse esforço teria que ser repartido entre os diversos agentes.
A Inapa apresentou, em 29 de julho, o pedido de insolvência junto do Juízo de Comércio do Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Oeste, segundo comunicou à Comissão do Mercado de Valores MObiliários (CMVM).
"A situação de insolvência da Inapa IPG foi despoletada por uma carência pontual de tesouraria de curto prazo da sua subsidiária Inapa Deutschland GmbH ("Inapa Deutschland"), em montante de 12 milhões de euros, para a qual não se encontrou solução de financiamento até dia 22 de julho, prazo estabelecido pela lei alemã, o que resultou na apresentação à insolvência da Inapa Deutschland nesse dia", lê-se no comunicado.
Como recordou a empresa, perante a insolvência da subsidiária alemã, a Inapa IPG decidiu avançar também para a sua própria, tendo ainda assim emitido uma "carta conforto à Inapa Deutschland a favor dos bancos financiadores desta última (entre os quais o Deutsche Bank AG, Hamburger Sparkasse AG e Norddeutsche Landesbank Girozentrale), nos termos da qual se comprometeu a contribuir os montantes necessários". No entanto, esta foi "impossível de cumprir".
A Inapa explicou que o "incumprimento da carta conforto e a insolvência da Inapa Deutschland determinavam o vencimento antecipado do financiamento obtido junto do consórcio alemão de bancos acima referido, no montante de Euro17.735.000 [euros], igualmente coberto pela carta conforto emitida à Inapa Deutschland".
A empresa tinha financiamentos contraídos junto do Millennium BCP, mas não tinha "capacidade para liquidar tal dívida", além de ser incapaz de cumprir com garantias às participadas.
Estava assim numa situação de insolvência, pela qual também foi decidido não efetuar o pagamento de 3.000.000 euros "devido no dia 25 de julho de 2024, por referência à terceira série de obrigações convertíveis subscritas pela sociedade Papyrus GmbH".
Tendo em conta este contexto, "a Inapa IPG encontra-se em sérias dificuldades para prosseguir a sua atividade, em face dos impactos que as circunstâncias descritas têm na sua relação com entidades financiadoras, fornecedores, seguradoras de crédito e demais 'stakeholders' [intervenientes]".
O grupo Inapa foi fundado em 1965 e tem como principal acionista a empresa pública Parpública, com 44,89% do capital social, enquanto a empresa Nova Expressão tem 10,85% e o Novo Banco 6,55%. O restante capital está disperso.
Foi este mês conhecido que a Inapa tinha pedido uma injeção de 12 milhões de euros para necessidades de tesouraria imediatas, mas o Ministério das Finanças disse que a Parpública não iria conceder à empresa os financiamentos pedidos.
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