Numa ação para explicar o que acontece depois do contentor, a multinacional Veolia (em Portugal desde 1992) e a entidade gestora Electrão, que trabalham na área dos resíduos, mostraram como é que uma embalagem de detergente que é colocada num ecoponto amarelo pode voltar a uma habitação depois de reciclada.
Na fábrica de reciclagem Micronipol, fundada em 2000 e que recentemente se tornou parte do grupo Veolia, Sandra Silva, diretora de Resíduos na empresa, explica, apontando os grandes fardos de plásticos, que lhe chega ali material que as pessoas colocam nos ecopontos, através das entidades gestoras (uma delas o Electrão), resíduos da indústria e do comércio (plástico que embala componentes para automóveis, por exemplo) e plásticos da agricultura.
E na mesma fábrica de Freixianda, Ana Ribeiro, diretora operacional da Micronipol, precisa à Lusa que a empresa recebe três tipos de plástico, o polietileno de baixa densidade, como o plástico que envolve um rolo de papel de cozinha, o polietileno de alta densidade, o frasco do gel de banho, do iogurte ou da lixívia, e o polipropileno, um material mais específico, como a embalagem do pacote de arroz.
Numa área total de 50.000 metros quadrados guardam-se as toneladas de resíduos de plástico que a empresa compra às entidades gestoras.
É armazenado conforme a tipologia, porque os resíduos não se misturam, depois é processado nas linhas de lavagem, é cortado, triado, lavado de novo e seco, depois é sujeito ao processo de extrusão (para adquirir a forma de granulado), e finalmente embalado para que os compradores possam fazer tubos ou sacos de plástico, embalagens para detergentes, regadores ou vasos para flores, explica Ana Ribeiro à Lusa.
E como chegam ali essas embalagens de resíduos que se vão transformar em matéria-prima em forma de granulado?
Susana Ferreira, diretora de gestão de resíduos do Electrão, resume: os resíduos depositados no ecoponto amarelo são recolhidos pelo município e entregues no sistema de gestão de resíduos urbanos, para serem triados, entre os diversos tipos de plásticos e outros materiais, como o alumínio. E depois as entidades gestoras encaminham para a reciclagem.
É assim que à fábrica da Micronipol chega o plástico que vai ser triado e cortado, o início de um processo num espaço de máquinas que fazem um barulho intermitente e ininterrupto, noite e dia.
De estruturas pintadas de verde e amarelo sai por vezes um leve cheiro a plástico queimado, caem pequenas partículas em tapetes rolantes, tudo num ciclo que só termina em grandes sacos de mais de mil quilos onde cai o granulado, separado por cores. São os sacos que hão de ir para os clientes.
Sandra Silva explica à Lusa que a fábrica trabalha 24 horas por dia e só para duas épocas por ano, que das 15 mil toneladas anuais 40% são para exportação, que 99% da produção é o granulado (pequenos pedaços de plástico uniformes) e o resto um plástico mais moído, a fazer lembrar farinha, e que o produto final é aplicado em atividades onde é possível incorporar plástico reciclado.
"Vendemos para empresas que a seguir utilizam o plástico como matéria-prima ou para os seus produtos diretamente ou para as embalagens dos produtos", diz, explicando que há clientes que fazem embalagens para lixivias e detergentes, que depois vendem, ou clientes que fazem já o produto final, como tubagem para construção civil.
Matéria-prima não falta? Sandra Silva sorri. "A matéria-prima é sempre um recurso escasso", por isso "seria muito bom que houvesse mais pessoas a separar" para haver um nível de reciclagem maior e com maiores quantidades.
Ainda que, como explica Ana Ribeiro, quase só os tubos de agricultura sejam 100% de plástico reciclado e que de resto haja incorporação de material virgem, a importância da reciclagem está sempre presente.
"Cada quilo de plástico que reciclamos é um quilo que não está no ambiente e que podia ficar a poluir", diz Sandra Silva. E Ana Ribeiro destaca ainda a reciclagem de toda a água utilizada. "Temos uma ETAR, reciclamos. Desperdiçar água é lavar as embalagens em casa. Nós lavamos".
No processo de reciclagem, com Portugal longe das metas a que está obrigado a nível da Europa, o Electrão destaca, citando um relatório recente, que 40% dos ecopontos longe dos cidadãos dificultam a reciclagem de embalagens.
Afirmando que no ano passado a reciclagem de embalagens pelo Electrão (que, no caso deste tipo de resíduos, tem uma quota de mercado de 10%) aumentou 6% por cento em relação ao ano anterior, a entidade justificou a organização da visita à Micronipol para "sublinhar a importância da economia circular".
E diz que para que se cumpram as metas de retoma de embalagens é preciso mais envolvimento de todos, implementar um sistema de incentivos e aumentar a eficiência de todo o sistema
O Electrão é uma das entidades responsáveis pelo sistema de recolha e reciclagem de resíduos. A Veolia, com origem em França e hoje em mais de 40 países, trabalha principalmente na área do fornecimento e gestão de água, na gestão de resíduos e na energia.
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