"Por vezes, nós temos uma relação muito afetiva com Timor, e essa é a relação prioritária, mas há também uma relação de Estado a Estado, uma relação de interesse e benefício mútuo", afirmou Paulo Rangel.
O chefe da diplomacia portuguesa, que chegou hoje a Timor-Leste para uma visita de três dias, falava aos jornalistas no final de um encontro com o Presidente timorense, José Ramos-Horta.
"Há uma coisa que se está a esquecer à medida que aceitamos que há uma nova centralidade mundial no Indo-Pacífico. Está a esquecer-se que Timor, que era um país periférico, está no meio dessa nova centralidade, porque Timor é um país que faz a transição entre o Índico e o Pacífico", salientou o ministro português.
"E, portanto, nessa medida é um país híper central, não é um país periférico e isto é algo que eu queria chamar a atenção, esta circunstância geopolítica e, em particular, geoeconómica, porque é um fator de atratividade deste país, que evidentemente tem de ser ponderado naquelas que são as decisões de futuro, de investimento e de aposta exterior", afirmou Paulo Rangel.
O ministro dos Negócios Estrangeiros e o Presidente timorense fizeram também uma análise à situação internacional e ao "grande desígnio" de Timor-Leste, que é a "entrada na ASEAN [Associação das Nações do Sudeste Asiático]".
"Falamos aqui, naturalmente, dos conflitos que mais nos afligem, do conflito israelo-árabe, por um lado, do conflito, da guerra de agressão, da Rússia contra a Ucrânia, por outro", mas também da situação no Myanmar e das tensões entre os vários Estados no mar do sul da China.
"Estas foram questões que estivemos a abordar para fazer no fundo uma comunhão, uma partilha de visões de cada um dos países sobre estes conflitos e também sobre a forma como nós, através da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa] ou cada um dos Estados por si, podem ter um papel positivo, nomeadamente no favorecimento de soluções de paz", disse o ministro.
Sobre a ASEAN, Paulo Rangel destacou que foi discutido o que isso significa para a economia timorense, mas também para as relações que a CPLP pode ter com Timor como "uma janela da CPLP para a ASEAN" e também da União Europeia.
"Portanto, como um Estado que pode ser embaixadores destes espaços junto dos outros", disse o ministro, salientando que é "algo que é muito estratégico para o futuro".
Antes do encontro com o Presidente de Timor-Leste, o chefe da diplomacia portuguesa esteve reunido com o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, com quem abordou a cooperação entre os dois países.
Na sexta-feira, do programa de Paulo Rangel constam visitas à Escola Portuguesa de Díli, bem como à Escola CAFE (Centro de Aprendizagem e Formação Escolar) da capital timorense, um dos 13 que existem no país, bem como um encontro com o cardeal Virgílio do Carmo, arcebispo de Díli, e uma visita à obra missionária das Irmãs Escravas da Santíssima Eucaristia e da Mãe de Deus, bem como a participação numa conferência sobre a Interfet (Força Internacional para Timor-Leste), no âmbito do 25.º aniversário da sua criação.
No último dia da visita, sábado, Paulo Rangel realiza uma visita à embaixada de Portugal e ao cemitério de Santa Cruz.
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