"Os governos estão cada vez mais a querer utilizar soluções privadas para problemas de desenvolvimento público; de forma sistemática e transparente, estão a trazer o setor privado para fornecer serviços públicos com a maior qualidade possível", disse Sérgio Pimenta em entrevista à Lusa em Lisboa.
O setor privado, acrescentou, traz uma grande mais-valia para os governos, porque a disponibilização de serviços públicos está muito ligada à questão da industrialização do continente e da agregação de valor aos produtos africanos.
"Os países não querem só exportar, mas sim acrescentar valor, e estão a utilizar o modelo das parcerias público-privadas para trazer mais a força do setor privado, em conjunto com o setor público, para fornecer soluções conjuntas, e por isso nós, na IFC, estamos cada vez mais a trabalhar de forma conjunta com os nossos colegas do Banco Mundial", explicou o responsável que há sete anos é o vice-presidente da IFC com o pelouro de África.
Questionado sobre se megaprojetos com o Corredor do Lobito, que mobiliza milhares de milhões de dólares e atravessa três países, é um modelo preferido, comparando com outros direcionados a pequenos investimentos menos burocráticos e com capacidade de transformar a economia local, Sérgio Pimenta respondeu que a preferência por grandes projetos tem a ver com a escolha dos países e com a escala dos mercados.
"O clima de negócios não é sempre fácil, mas há vários anos que os governos africanos estão a levar esta questão muito a sério e a tomar as medidas necessárias para simplificar os investimentos", referiu.
Essa atuação, afirmou, "está bem patente" nas análises da instituição "que mostram que há diversos procedimentos administrativos que estão mais simples e mais baratos recorrendo ao sistema digital, de tal forma que já há muitos países em África que em termos de simplificação de procedimentos estão ao nível do melhor que se faz a nível internacional", considerou.
Para Sérgio Pimenta, a aposta em grandes projetos como o mercado regional energético na África Austral ou o Corredor do Lobito, uma linha ferroviária que vai ligar o porto de Lobito, em Angola, à Zâmbia, atravessando também o sul da República Democrática do Congo (RDCongo), resulta da necessidade de conferir escala aos investimentos dos grandes grupos privados.
"Quando há mercados pequenos - e os dirigentes políticos e os investidores privados perceberam bem isto -, é preciso trabalhar em conjunto, olhar para uma região e não só para um país", sustentou.
Neste contexto surgem grandes projetos, que beneficiam vários países, "porque não se justifica um certo investimento numa escala em que o mercado de destino é demasiado pequeno", disse Sérgio Pimenta, lembrando o setor da energia na África Austral, em que Moçambique vende energia à África do Sul, como um exemplo de um megaprojeto que fomenta o desenvolvimento.
O problema, considera, não é o financiamento, mas sim juntar os vários intervenientes.
"Pode haver algum ceticismo, mas se conseguirmos trazer atores sérios do setor privado, eles têm o capital, o problema não é o acesso ao financiamento, o que é preciso é que os vários elementos se juntem, e quando se traz o setor privado, que consegue mobilizar investimentos e capacidade técnica, cria-se o ambienta favorável para esse tipo de projetos, que podem e vão acontecer", referiu.
O impacto da presença da IFC, conclui, é servir como elo agregador dos vários intervenientes: "Podemos trazer uma certa credibilidade, analisando os impactos ambientais e sociais com os nossos próprios critérios, e ao cobrirmos vários países, podemos facilitar o diálogo à volta de um projeto que tenha um impacto positivo real", concluiu.
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